Depois de um período de quase seis anos sem elevação da taxa de juros, o Comitê de Política Monetária – Copom, surpreende o mercado com alta no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) em 0,75 pontos percentuais, elevando para 4,25% a taxa de juros ao ano, agitando, de certa forma o mercado financeiro e a própria vida dos brasileiros. A alta da taxa de juros tem várias implicações; o aumento do custo do endividamento, tanto para o Estado como para as empresas e também para as famílias A taxa de juros é o preço do uso do dinheiro para determinado período de tempo. Conforme a teoria econômica, o aumento da taxa de juros torna o crédito mais caro, diminuindo a tomada de empréstimos. Com redução do crédito, há menos dinheiro circulando para o consumo ou investimento, forçando a redução da demanda por produtos e serviços.
A economia brasileira, hoje, está em queda e o aumento da taxa de juros tem como um dos principais objetivos segurar o consumo e manter a inflação sob controle. Em 2020, a inflação alcançou altas indesejadas fazendo com que os consumidores perdessem o poder de compra. Em 2021 a inflação segue preocupando a vida de todos, especialmente das pessoas de baixa renda, agravando ainda mais a desigualdade social. Em apenas 12 meses o Índice Nacional de Preços a Consumidor Amplo (IPCA) subiu 8,06%. No mesmo período o Índice Geral de Preços (IGP-M) acumulou alta de 37,04%, forçando o aumento do reajuste de preços da energia elétrica, telefonia e contratos de planos de saúde, educação, além dos contratos de aluguel.
A elevação dos juros impede o aumento do consumo, já que os produtos e serviços ficam mais caros, a economia desacelera, evitando que os preços continuem subindo e se instale um processo inflacionário sem controle. Por outro lado tem os que se beneficiam com a alta dos juros. As pessoas que possuem dinheiro e desejam ganhar com ele e viver na condição de aplicadores do mercado financeiro, tem nos títulos de renda fixa como CDBs, LCLs, LCAs e tesouro Selic possibilidades de ganhos. Já aqueles que aplicam em renda variável, caso de ações e fundos imobiliários, devem ter efeito contrário e perdem atratividade com os juros em alta.
No geral, seguramente, a economia dará sinais futuros de mudanças no processo produtivo e no consumo da população. Como a produção deverá encarecer, é possível que possa haver estoques, não só na indústria, mas na agropecuária como um todo, ou seja, continuará produzindo, mas terão dificuldades em vender. A acumulação dos estoques já está ocorrendo face ao recuo do consumo nos últimos meses. Este cenário impactará, certamente, o desempenho do PIB mais adiante.
O que se viu na pandemia, onde as pessoas que mantiveram seus ganhos e permaneceram em casa, geraram forte demanda por produtos de toda ordem, proporcionando a indústria crescimento de até 4,3% acima do nível anterior, o que não deverá ocorrer a partir do novo cenário de juros em alta. As incertezas continuarão enquanto não retornarmos a vida sem Covid. Há tendência de que os principais indicadores econômicos para 2021 não sejam favoráveis e a taxa de juros deve terminar o ano em 5,50%, segundo o Banco Central. Para o cidadão comum, que constitui o grupo maior e mais atingido pelo “custo de vida” a recomendação é adiar qualquer despesa que não seja essencial, substituir produtos, reduzir a quantidade para evitar desperdícios, explorar novos pontos de venda, alimentação caseira, mais saudável e econômica do que as normalmente oferecidas em pontos de alimentação. As pessoas que dependem de empréstimo ou financiamento recomendam-se que leiam com atenção as cláusulas do contrato que deve constar a taxa de juros que irá pagar e o custo efetivo total da operação, evitando o pagamento de juros, muitas vezes absurdos.
Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (AC), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 14/07/21.