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Por onde passa o rali dos preços do arroz para o próximo ciclo pós La Niña


“Buenas, tudo Bueno? Ainda achas que eu não tenho razão que a Fronteira Oeste colhe 30% menos que o ano passado.” (Obs.: Nos anos 2016 e 2019 a colheita na Fronteira Oeste foi menor, em torno de 23%, as causas foram excesso de chuvas, menor luminosidade, etc.).

Com esta mensagem recebida de um produtor, parceiro das tropeadas (andanças antigas) nas Associações dos arrozeiros entre 2004 a 2013. Parece até uma competição de quem será mais assertivo nos cálculos das possíveis quebras, mas esta é a real situação, sem filtro. Nós, produtores, somos acostumados a relativizar esses acontecimentos, pois a labuta é bruta! E é a céu aberto, ora granizo, ora tempestades e enchentes, ora seca, outras vezes geadas ou muito calor. E, para fins de aceitação, temos que aceitar as condições e recondições impostas pelos agentes comerciais, principalmente para o arroz depositado.

Desde o início de janeiro de 2022, estou recebendo ligações de parceiros arrozeiros de todas as regiões do Estado do RS, principalmente da Fronteira Oeste. As questões são as mesmas, “os preços, os custos e as prováveis quebras”. Na primeira quinzena de fevereiro, depois de muito tempo sem contato, recebi ligações de comerciantes de indústrias de arroz do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. O assunto: “Qual a real situação da seca e provável quebra?”. Segundo eles, esta difícil mensurar, pois estão recebendo informações desencontradas com até 40% de quebra já consolidada. A preocupação desses comerciantes é terem as informações mais precisas, e uma delas é não perderem o time do melhor momento da posição das compras.

Em respeito a todos, prometi dispor mais uma vez do meu raciocínio macro. Para isso, 
convido-os a filtrarem as lacrações, os interesses bem ou mal intencionados, enfim, procurar neutralizar as dificuldades atuais, para que com as mentes livres e sadias façam uma melhor analise dos fatos.

Leiam também o artigo abaixo. Se já leram? Leiam outra vez vão agregar.  Em artigo com o titulo. “Arroz Longo: Cenário para o Decênio 2021 a 2030 – Baseado nos fatos acontecidos no mundo e na curva histórica dos preços”. Escrito em 30.03.21 e publicado em 03.06.21 pelo CORECON/RS (veja AQUI). No referido artigo contextualizei fatos que envolveram parte da historia do arroz, embora na época estivesse bem fundamentado, reduzi o artigo e me abstive de divulgar a conclusão mais explicita. Hoje, com os acontecimentos atuais e a pedido, vejo como interessante passar uma melhor visão.

É necessário ser realista quanto à contextualização histórica, mas também é importante vislumbrar além, pagar o preço de correr o risco e tentar enxergar o que vêm depois da curva, por isso, acredito ser o momento de divulgar a previsão conclusiva, uma análise visionária, porém dentro do contexto que os sinais demonstram para prováveis acontecimentos. Os “sinais” que servem de modelo ou alerta: Entre 2004 e 2006 ouve o efeito La Niña, que o apelidei de “Potente”, por suas consequências mundiais. No sul do Brasil seus reflexos continuaram em algumas regiões após a extinção do evento em 2007. A questão é: Acontecerá e em qual Região do Sul? Terá risco de continuidade da seca? Com mais ou menos intensidade durante o ano de 2022? Para estas respostas precisamos chamar os professores. 
Nos EUA, as consequências do evento Lá Niña no eixo produtor de arroz longo são de chuvas desde o plantio, com menor luminosidade, extremos de temperaturas e no período da colheita uma temporada mais intensa de tempestades e furacões; Na Ásia, o período é de muitas chuvas por influência da pressão de umidade das águas quentes, empurradas pelas águas frias da costa leste para oeste do pacifico equatorialO Lá Nina atual, pelos seus agravantes apelidei de “Superpotente”, primeiro pelo mergulho duplo, segundo pelos recordes das temperaturas e terceiros pelas consequências mundiais que estão maiores do que o acontecido no evento de 2004/2006. As consequências mundiais: Na Ásia desde 2020, países como Indonésia, Filipinas, Vietnã, Mianmar, Paquistão, Bangladesh, Tailândia, Índia, China, Nepal, Sri Lanka, Camboja... todos grandes produtores e consumidores de arroz, ora um, ora outro, foram ou estão sendo castigados com alagamentos de trombas d’agua, tufões e grandes chuvas. 

É importante destacar que o período do ano safra mundial no ocidente é de julho a junho e no oriente de agosto a julho. Assim, as safras mundiais de 2020/2021 e 2021/2022 estão no “olho” do La Niña e a safra 2022/2023 estará no risco dos efeitos e reflexos posteriores ao final deste ciclo.

Nos EUA a previsão é repetir o cenário da última safra (2021/22) com produção menor em 15%, apesar de que, ainda existe um estímulo no momento, devido aos preços médios estarem na faixa de U$15,70 dólares/cwt, motivo para aumento da área se os produtores americanos não estivessem apreensivos, não pelo clima e suas tempestades, este motivo os seguros agrícolas tiram de letra. A apreensão é com os custos de produção elevados, especialmente dos fertilizantes. Também com os preços baixos praticados no mercado brasileiro, que é balizador de preços para o MERCOSUL, região hoje concorrente a vários mercados internacionais. Outra preocupação é com os altos subsídios dos fertilizantes na Ásia, principalmente na Índia e no Paquistão.

A Índia, com subsídios de mais de 50% nos fertilizantes, vem competindo nos mercados mundiais, concorrendo principalmente nos países do oriente médio, motivo do pedido de apontamento pelos americanos na OMC. Paquistão com apoio da China, através de acordo entre governos assinado em janeiro de 2006 (sem resultado efetivo por muitos anos) foram vencidos pela pressão do sistema e nos últimos dois anos passaram a usar pacotes tecnológicos de produção chinesa, que inclui sementes hibridas e altos subsídios nos fertilizantes, como na Índia.

No Mercosul, ao contrário, se produz mais em anos de La Niña. Todos os agentes envolvidos, até os estrangeiros sabem que em anos de La Niña a produção de arroz do Mercosul é boa! Claro, é prudente estar atento, se for assertivo classificar como um “La Niña Superpotente”, o “bixo” pode pegar! Todos são sabedores que no contexto mundial as consequências são de produção menor (negativa) em todos os grãos, ao contrário da demanda com efeitos em cascata no consumo. Por isso é prudente estar em alerta máximo e que tenhamos excelentes safras de arroz no Mercosul. Parte depende do clima e parte dos produtores, mas outra parte importante depende dos agentes comerciais. Agentes Comerciais? Sim, o subpreço depreda o valor do produto, a saúde do crédito, desestimula os investimentos e consequentemente as boas safras, sendo mais explícito, são os preços ao produtor que determinarão o humor e o empenho da melhor produção.

Os efeitos climáticos são neutralizados com atividade rentável, caso os mercados principalmente o brasileiro persistam nos preços do arroz ao produtor abaixo dos custos, como é de praxe. O risco será no futuro ter que fazer como a Ásia e recuperar a produção com altos subsídios. E, ou importar dela mesma (Ásia), embora com doenças bióticas e abióticas (arroz mofado, podre para uma linguagem mais popular). Há ainda uma terceira opção, importar arroz dos EUA que é arroz sadio, mas de menor qualidade em relação ao nosso. E o preço? Segundo Dwight Roberts da Associação dos Produtores de Arroz EUA em depoimento no dia 11.02.22, o “Mercosul está roubando o mercado do México competindo com preços U$70,00 dólares a menos por tonelada”. Isso representa no cambio atual, R$20,00 reais por saca mais barato ao produtor.

Senhores, essa é a real, ou o mercado brasileiro valoriza a produção ou logo, logo, os consumidores terão que pagar mais caro por produto de menor qualidade ou, na pior situação, por arroz asiático mofado.

Quanto aos preços pós La Niña, passará pela curva de mudança de patamares, nada diferente das mudanças cíclicas dos custos e preços da economia evolutiva, ou seja, tendência de alta para reposição dos valores de troca. Quais são esses patamares ou curva de preços do Arroz? Voltando ao passado um pouco mais distante, até meados da década 1980, encontraremos preços médios entre U$3,00 a U$4,00 dólares; Já no ciclo anterior ao La Niña de 2004, a curva serpenteava entre a média de U$6,00 a U$10,00 dólares por cwt, com um patamar intermediário de U$8,00 dólares por cwt; Após 2006 e até 2019 a curva serpenteou entre U$10,00 a U$15,00 dólares por cwt. Neste ciclo, houve dois momentos distintos, de 2007 a 2014 entre U$12,00 e U$15,00 dólares com superávit para a cadeia produtiva e de 2015 a 2019 entre U$10,00 e U$12,00 dólares com déficit para a maioria.

De posse desse histórico dos patamares de custos e preços e usando a mesma metodologia, poderemos prever que a tendência evolutiva do próximo ciclo dos preços do arroz passará para um novo patamar entre U$15,00 a U$20,00 dólares por cwt. 
Os dados aqui relatados são de preços Cash da Bolsa de Futuro de Chicago em “quintal”(cwt) medida que corresponde a 45,359237 quilos de arroz em casca. O preço na fazenda americana varia entorno de U$1,20 dólar para cima ou para baixo dependendo da oferta e demanda. Para o produtor brasileiro usar como referência, terá que fazer a conversão para saca de 50 quilos. Embora a demonstração seja da curva dos preços do arroz e não dos custos. É importante dizer que os aumentos recordes dos fertilizantes aconteceram em 2006 e agora em 2021, em eventos coincidentemente de La Niña de duplo mergulho e de considerável intensidade.

Os modelos climáticos de janeiro de 2022 (NOAA) na sua maioria apontam para uma futura neutralidade, porém, existem modelos que apontam para transição direta para El Niño. Também há modelos que não descartam um Triple mergulho de La Niña. Terceiro La Nina? Sim, apesar de ser muito remota essa possibilidade, mas não impossível! Essa é para os antigos universitários responderem. Faço aqui uma deferência especial ao professor Luis Carlos Molion. É com esses doutores que estaremos bem informados sobre esses e outros parâmetros de influências climatológicas.

É importante ter informações com qualidade e profissionais capacitados para entender o Rali das safras e dos preços, pois o mercado joga o jogo. O problema é quem não tem o conhecimento nem a informação correta, estes vão perder dinheiro, simples assim. E ainda
vão continuar falando besteiras como “U$11,00 dólares para uma saca de arroz não é o fundo do poço, pois está acima dos preços médios históricos de U$10,00 dólares”. Pois é, Pois é! Estes são papagaios, repetem o que ouviram de pessoas mal intencionadas ou perdidas no passado há algumas décadas, terão que reciclar seus conceitos e evoluir urgentemente. Que não percamos a esperança de uma boa safra ainda em 2022 e no próximo ciclo 2022/23, tanto nos EUA como no Mercosul, se não a coisa vai ser Bruta!

Artigo de autoria do economista e produtor rutal, Gilberto Pilecco