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Desigualdade, a chaga social do Brasil

A desigualdade social no Brasil é histórica e começou com a chegada dos portugueses a uma terra desconhecida, cujos moradores eram povos indígenas guaranis. Esses povos viviam do que a natureza lhes oferecia e possuíam crenças próprias, que foram aos poucos desqualificadas pelos portugueses. Após os 522 anos da descoberta do país, com o crescimento da população, é flagrante que a questão da desigualdade continua e está piorando.

O conceito de desigualdade social é um guarda-chuva que compreende desde a desigualdade de oportunidade, de escolaridade, de acesso a políticas sociais, de renda, de gênero, de raça e outras tantas visíveis para quem estiver atento e preocupado com a questão. Em 2022, seguindo uma tendência mundial acelerada pela pandemia, a concentração de renda aumentou no país e, com isso, atingiu o pior nível em pelo menos duas décadas. Em função da má distribuição de renda e de investimento nas áreas sociais, culturais, saúde, educação, falta de oportunidades de trabalho e corrupção, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais no aspecto social, o que impacta diretamente sobre os indivíduos que sofrem no dia a dia com humilhações e dependência de ajuda ou do que resta nas lixeiras dos grandes e médios centros urbanos.

Segundo dados do Ipea, em 2021 havia mais de 200 mil pessoas em situação de rua, o que não é difícil comprovar quando se caminha pelas cidades e se observa que esse quadro aumenta a cada dia, parecendo não ter solução. Enquanto isso, nos últimos anos, quase metade da riqueza do país foi toda para as mãos de 1% dos mais ricos da população. É o pior nível de concentração de renda no Brasil desde o ano 2000, de acordo com o relatório do Banco Credit Suisse. Segundo o documento, o contingente de 1% dos mais ricos eram donos de 44,2% das riquezas no Brasil e, em 2010, esse número havia caído para 40,5%, ainda bastante significativo. Daí em diante, essa proporção voltaria a subir até chegar aos quase 50% nas mãos de pequeno grupo que ocupa o topo da concentração financeira no país.

O cenário de desigualdade social no Brasil é bem mais alto do que em outros países latino-americanos, como o México e Chile, por exemplo. Nesses países a desigualdade está menor do que há 20 anos. No México, a proporção da riqueza nas mãos de 1% mais ricos caiu de 40,1% no ano 2000 para 33,5% em 2020, e, no Chile, a queda foi de 42,8% para 31%. No Brasil, mesmo com promessas políticas de atenção a esse grave problema social, os números continuam crescendo e só perdem para a África do Sul, o país mais desigual do mundo, que tem no aspecto racial um dos fatores determinantes, em uma sociedade onde 10% da população detêm mais de 80% da riqueza, segundo relatório do Banco Mundial publicado em março de 2022.

Está claro que a questão da desigualdade no Brasil é reconhecida pela maioria dos candidatos aos cargos públicos e enaltecida nos discursos e debates pré-eleições. Entretanto a pergunta que todos fazem é a mesma: se as desigualdades são tão evidentes e prejudiciais ao país e aos brasileiros, por que continuam a existir e se aprofundam? A experiência internacional mostra que é preciso fazer investimento massivo e consistente na educação de uma criança logo em seus cinco ou seis primeiros anos de vida. Independente da cor, crença, gênero, questões responsáveis por criar barreiras que delimitam o acesso de pessoas marginalizadas (que estão à margem) a direitos básicos, como educação de qualidade, saúde, moradia, trabalho, alimentação, saneamento básico, transporte, lazer e bens de serviço. Esse fenômeno que começa limitando o acesso aos direitos humanos também impossibilita o acesso a oportunidades.

O Brasil não pode admitir que a desigualdade social se perpetue no país.

 

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (AC), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 15/10/22.