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Governo critica autonomia do Banco Central

Os primeiros bancos como são conhecidos hoje, em muitos países, tiveram origem na criação do Banco da Suécia em 1656, seguido pela instituição do Banco da Inglaterra, criado em 1694. A ausência de um Banco Central nos Estados Unidos por um longo tempo fez com que o país enfrentasse crises desnecessárias. Por esta razão, em 1701 o governo americano concedeu o FED - Federal Reserve System, instituição que cuida da gestão de todo o sistema financeiro do país e da definição de sua política monetária.

O resultado positivo do funcionamento do Banco Central americano se espalhou pela Europa e outras regiões do mundo; na América Latina, a iniciativa da independência dos Bancos Centrais teve início na segunda metade do século 20. A ideia da criação de um Banco Central independente, a princípio, era a de impedir intervenções de governos populistas com atividades políticas de expansão artificial da economia que seguramente acarretariam surtos inflacionários e redução do potencial de crescimento dos seus países. O Banco Central do Brasil, autarquia federal integrante do Sistema Financeiro Nacional (SFN), foi criado em dezembro de 1964 pela Lei 4.595, iniciando suas atividades em março de 1965.

A decisão de independência dos Bancos Centrais tem sido positiva em todos os países desenvolvidos. Não há dúvida de que os países que aderiram à independência dos seus Bancos Centrais têm apresentado crescimento, com amplo controle da inflação, o que beneficia o emprego e a renda. Mesmo com experiências bem sucedidas dos Bancos Centrais no mundo, no Brasil economistas heterodoxos aliados a empresários e políticos rejeitam a ideia sob o argumento de que o Banco Central brasileiro deve ser subordinado ao governo, tornando-se agente do desenvolvimento, ainda que contrário às experiências bem sucedidas em todo o mundo.

A independência do Banco Central do Brasil ocorreu em 10 de fevereiro de 2021, pela Lei Complementar 179/2021, que estabeleceu como objetivo preliminar assegurar a estabilidade de preços, além de fomentar o pleno emprego. A Lei também estabelece mandatos fixos para os dirigentes do banco, com duração de quatro anos, tanto para o presidente quanto para os oito diretores. A atuação do Banco Central não é isolada, ele atua conjuntamente com outros órgãos do sistema financeiro brasileiro, cumprindo as diretrizes monetárias e as metas definidas pelo (CMN) Conselho Monetário Nacional. Qualquer interferência política na instituição certamente vai impactar o mercado financeiro interno e externo, principalmente no estabelecimento da meta de taxa de juros básica da economia, a Taxa Selic. Ela é atualizada a cada 45 dias com base em inúmeros indicadores financeiros do País, já que a economia não é estável e precisa se adequar ao cenário para que exista equilíbrio e garantia que o dinheiro continuará circulando. A manutenção da atual Taxa de Juros Selic em 13,75%, explicada tecnicamente, é o ônus a pagar para segurar ou reduzir o atual movimento inflacionário danoso para a economia, mas principalmente para a grande massa de consumidores e assalariados.

As declarações do atual presidente, contrário a independência do Banco Central, tem o propósito de imputar à instituição a culpa por eventuais fracassos no cumprimento de promessas eleitorais. Nessa mesma linha compartilha grande parte da classe política, desinteressada em reconhecer a responsabilidade de um Banco Central com atuação técnica, em conformidade com os movimentos da economia nacional e internacional e com os sinais enviados pelo mercado em qualquer momento.

Artigo de autoria do Diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP) e ex-conselheiro do Corecon-RS, economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 23/02/23.