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Talvez Bolsonaro saiba o que está fazendo

 Voltando para casa, depois da guerra de Troia, Ulisses ordena que sua tripulação o amarre junto ao mastro do navio e pede que o resto da tripulação coloque cera de abelha nos ouvidos para que não escutem som algum. Essa decisão foi tomada para evitar que tanto os marujos quanto seu capitão fossem atraídos pelo canto das sereias que seduziam os marinheiros desavisados, fazendo-os naufragarem nos rochedos.

Da mesma forma, um presidente também é constantemente tentado pelo canto das sereias. No caso do Brasil, temos três que são irresistíveis. A primeira são os lobbies das diversas corporações, como o funcionalismo público para manutenção de privilégios, dos grandes empresários em busca de subsídios e crédito barato e dos sindicatos atrás de benefícios. A segunda são os políticos corruptos que desejam manter o "business as usual" da política, o "toma lá dá cá" e, claro, a impunidade. A terceira é uma sereia que tenta o presidente a desrespeitar as instituições do país, sempre por "motivos nobres", é claro, e que leva o país a passos de formiga para o autoritarismo.

No caso de um presidente, o problema é ainda pior do que o enfrentado por Ulisses, pois não é somente necessário resistir à tentação, mas também mostrar publicamente que está resistindo. Para isso, ele precisa mandar sinais à população de que, de fato, ele está preso no mastro do navio.

Talvez seja exatamente isso que Bolsonaro esteja fazendo quando, ao que tudo indica, busca sustentar seu governo em três nomes de peso: Paulo Guedes na Economia, Sergio Moro na Justiça e o general Heleno na Defesa. Cada ministro é como se fosse uma corda específica para se manter longe de cada uma das sereias. Com Guedes, ele promete não cair na tentação de "atalhos" heterodoxos na economia, com Moro ele promete não ser seduzido pelo canto dos políticos corruptos em busca de salvação e, finalmente, quem seria melhor para limitar potenciais aspirações autoritárias de um capitão do que um dos mais respeitados generais no comando da Defesa?

Seria um cenário otimista demais? Talvez. Ainda é cedo para saber se essas cordas serão fortes o bastante para ancorar nosso presidente e impedir que o Brasil naufrague.

* Artigo do conselheiro do Corecon-RS, economista Guilherme Stein, publicado na página 23 de Zero Hora, do dia 07/11/2018