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Carnaval da pandemia em 2022

O Brasil ficou mais pobre com a pandemia, num momento que parecia decolar para o desenvolvimento. Mais de 14 milhões de pessoas perderam o emprego, a inflação dispara os juros em alta, com reflexos no custo da cesta básica, o real desvalorizado em relação ao dólar, combustíveis, gás de cozinha, transporte e demais impostos se mantiveram sem tréguas para os sobreviventes. Em 18 meses o país perdeu mais de 610 mil pessoas em conseqüência da doença, enlutando famílias em todos os estados da União e continua perdendo, mesmo que a vacinação tenha reduzido o ritmo das mortes. Mesmo assim discute-se a realização ou não do carnaval em 2022.

Tradicionalmente o carnaval tem como questão a idéia de subversão da ordem, na qual as coisas deixam de ser como são, para temporariamente, assumirem seu inverso. É um período no qual as pessoas se entregam as festas e aos prazeres carnais, para em seguida se penitenciar com Deus, ou reparar o mal feito.

Toda festa tem que ter um bom motivo para ser realizada, ou seja, que proporcione alegria e felicidade para quem participa dela. Seja um final de colheita bem sucedida, que trará prosperidade aos agricultores, a vitória da seleção nacional num determinado mundial ou até o crescimento do PIB com reflexo na geração de empregos e renda para a população. Este parece não ser o caso, pois no momento, nada se tem a comemorar. Carnaval é algo difícil de controlar cujo principal risco é a grande aglomeração, num cenário de pandemia que ainda não acabou e sinaliza com a circulação da variante Delta, mais transmissível, em evolução no continente europeu. Colocar-se em meio a muitas pessoas, estando doente ou não, é algo de extremo risco, afinal, como aprendemos desde o início, basta que um indivíduo esteja contaminado para transmitir o vírus para diversas outras pessoas que estejam no local.

É possível que o segmento que organiza e participa ativamente do carnaval pense diferente, afinal o carnaval é uma grande indústria que reúne um conjunto de atividades para a produção de fantasias, adereços e materiais para os carros alegóricos que movimentou na última edição, em 2018, R$ 6,5 bilhões e gerou mais de 20 mil empregos. Haverá alegações de que o futebol retomou o ritmo normal de assistentes nos estádios, mesmo com o controle das vacinações dos interessados na entrada, as aulas presenciais estão em ritmo quase normal, o acesso a restaurantes, teatros e algumas festas populares estão autorizadas, mesmo com determinadas restrições, porque o carnaval não será realizado?

Em se tratando de festa popular que acontece no mesmo período em quase todas as cidades brasileiras, com destaque para o Rio de Janeiro e São Paulo, onde milhares de famílias ainda lidam com a dor de um luto recente pela perda de entes queridos, pular, dançar e cantar parece que não faz sentido. Mesmo que mais de 60% da população já esteja vacinada com a primeira dose e que este contingente aumente no decorrer dos dias, o que oferece boas perspectivas até o fim de 2021 e continue crescendo em 2022, cabe lembrar que a pandemia ainda não acabou e que estão surgindo novas variantes do coronavirus circulando pelo mundo, algumas das quais já chegaram ao Brasil, o que causa preocupação as autoridades médicas que sofrem as conseqüências diretas das lotações nos hospitais.

O tema está em debate nas prefeituras das principais cidades brasileiras que tradicionalmente promovem os grandes carnavais. A sua realização ou não dependerá do bom senso de quem decide e nem sempre a decisão estará isenta de influências políticas e econômicas. O certo é que o carnaval não foi cancelado no Brasil, talvez adiado, obrigando os foliões a manterem a contagem regressiva para uma data que possa ser realizado com certa segurança para o bem de todos e a felicidade geral da nação.

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 19/11/21.