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A economia argentina em crise

A economia argentina já foi uma das maiores exportadoras do mundo. O volume de exportações em 2020 gerou US$ 65 bilhões, ou seja, 0,3% do total mundial. Com o advento do Mercosul, o Brasil se tornou o principal parceiro comercial dos argentinos, participando em quase um terço das suas exportações. Entretanto, a economia argentina começou a dar sinais de queda em 2015, em função de fatores políticos e técnicos, iniciando com a crise cambial que levou o peso a perder valor em relação ao dólar, atingindo o ápice nos últimos meses de 2023.

Parece que o país vizinho está fadado a viver de grandes emoções na sua economia. Foi durante a presidência de Raúl Alfonsín, que assumiu em 1984 que o País chegou a 700% de inflação, ocasião em que o FMI (Fundo Monetário Internacional) e outras instituições de crédito bloquearam os novos créditos para o país, o levando a quase falência.

Muito diferente da Argentina dos anos 1913, quando foi considerada a décima nação mais rica per capita do mundo, com vida e estilo europeu, atração para turistas do mundo inteiro. A atual turbulência política que coincide com um clima de insegurança econômica levou o País a conviver com a taxa de inflação de 102,5%, a primeira vez desde 1991, quando a Argentina estava saindo da hiperinflação. O pior dos cenários é que a expectativa do mercado sinaliza que os preços ao consumidor sigam na tendência de alta nos próximos meses.

Uma das razões para a alta da inflação de preços no País é atribuída à elevada emissão de moeda pelo Banco Central, aliado à guerra na Ucrânia. Por ser considerada a segunda maior economia da América do Sul, o FMI tem aportado recursos que devem atingir mais de US$ 44 bilhões, negociações que já envolveram três ministros, trocados em apenas quatro semanas. O resultado da atual crise econômica argentina tem repercutido na pobreza do povo que atinge 37% da população, com impacto direto em mais de 50% das crianças e adolescentes de até 14 anos. Atualmente, os integrantes do grupo dos mais miseráveis passam o mês com salário médio de US$ 103, enquanto o salário mínimo do país é US$ 250, ou seja, 50.640 pesos, desde agosto de 2022.

O cálculo usa como base a carga horária de trabalho semanal de 40 horas, mas o trabalhador também pode receber acréscimos relacionados com valores gratificantes. Segundo analistas da economia argentina, a única maneira do governo gerar expectativas positivas é mostrar à sociedade como vai corrigir as contas públicas. Para isso, precisa apresentar um plano econômico sustentável. E, para que o plano seja colocado em prática, é preciso um poder político que não parece existir. As expectativas negativas sobre a economia não serão revertidas apenas com uma mudança de nome no Ministério da Economia, mas com ações firmes e urgentes.

As dificuldades certamente continuarão, visto que uma das questões difíceis de resolver é a dependência argentina da moeda americana, o dólar. Com suas reservas em moeda estrangeira em baixa, o País enfrenta dificuldades para manter sob controle uma dívida pública que tem mais de 76% de sua composição em dólar. A relação com o Produto Interno Bruto (PIB) é de 100,7%, de acordo com o dado mais recente do governo local. Isso significa que a Argentina deve mais do que o tamanho da sua economia _ o que é um fenômeno comum em diversos países, inclusive os desenvolvidos, mas preocupa em economias que não apresentam crescimento compatível ao endividamento. Não há dúvida que a crise dos vizinhos impacta diretamente no comércio brasileiro, seja no setor automobilístico, metal mecânico, setor de máquinas, da linha branca, entre outros tantos que já estão impactados, mesmo com o Real valorizado frente ao peso argentino, hoje ao redor de 38,17 para cada 1 R$. A desvalorização da moeda argentina aumenta o problema interno do País com o descontrole de preços.

Artigo de autoria do professor, pesquisador, Diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP) e ex-conselheiro do Corecon-RS, economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 23/03/23.