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"Os ajustes não podem mais ser os mesmos do passado", diz Aod

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O ex-presidente da Fundação de Economia e Estatística (FEE) e ex-Secretário da Fazenda no governo de Yeda Crusius, economista Aod Cunha de Moraes Junior, foi o palestrante da última edição do Economia em Pauta, ocorrida na noite do dia 16 de agosto, no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre. O evento, que discutiu o cenário global e a economia brasileira, fez parte da programação do Corecon/RS em comemoração ao Mês do Economista.

Dirigindo-se a um público de quase uma centena de pessoas que lotaram a Sala Acácia, no segundo andar do Hotel, a presidente do Corecon/RS, economista Simone Magalhães, agradeceu a presença de todos e, em especial a do palestrante, que teve que adequar sua agenda em função de viagem previamente marcada. Falou da importância do tema proposto ao debate e apresentou o curriculum do palestrante, que é pós-Doutor em Economia pela Universidade de Columbia, em Nova York, nos EUA, e também foi consultor sênior do Banco Mundial e diretor dos bancos JP Morgan e BTG Pactual. Fez, ainda, um convite aos presentes para acompanharem as ações dirigidas aos economistas que a Entidade vêm desenvolvendo, através dos diversos canais digitais do Conselho, como o site, o facebook, tweeter, o canal youtube, o boletim on line, e a TVCorecon/RS, entre outros.

Aod Cunha iniciou sua apresentação anunciando que sairia um pouco da discussão conjuntural deste momento do País para discutir, sob o seu ponto de vista, os desafios que a economia brasileira tem dentro de uma trajetória mais longa, comparando-a com um paralelo global. Traçando um paralelo histórico do desenvolvimento da economia global, lembrou que a civilização humana conviveu durante séculos com a pobreza, tornando-se incrivelmente mais rico a partir do século XIX. Utilizando-se de dados gráficos, demonstrou que, enquanto no ano de 1800 a renda média da população mundial era de U$ 3 por dia, no início da década atual, menos da metade já vivia com este montante diariamente, e que a geração de riqueza global cresceu ainda mais exponencialmente nas últimas três décadas. “Ainda que a concentração de renda global na camada dos 1% superiores tenha subido nas últimas décadas, a pobreza absoluta também vem caindo rapidamente”, disse, citando estimativas do Banco Mundial de que em 2015, pela primeira vez, menos de 10% da população mundial vive com menos de U$ 1,9 ao dia. Falou sobre a trajetória da economia brasileira, que veio alternando períodos de crescimento econômico mais acelerados, como nas décadas de 60 e 70, com períodos de estagnação, como ocorrido na década de 80 e início dos anos 90. “Conseguiu deixar de ser um país pobre, mas segue uma trajetória de ficar velho antes de enriquecer”, alertou, comparando a situação brasileira com a da Grécia. Lembrou que o Brasil, há décadas, vem persistindo num modelo de crescimento econômico altamente dependente do estado, com aumento de gastos e intervenções frequentes na economia, alternando ajustes paliativos e crescimento, mas sem uma medida efetiva de combate ao déficit público, o que levou o País, com uma carga tributária de cerca de 17% do PIB, na década de 90, a algo próximo de 38% do PIB nos dias atuais. “É que a economia veio crescendo, dependendo às vezes de um cenário externo mais favorável, mas muito mais baseado na expansão de gastos e de investimentos públicos, fazendo com que estourasse a capacidade de geração de receita do estado, e se instalando o déficit, a inflação e, consequentemente, o aumento da carga tributária”, explicou.

IMG 3405Afirmou que, ao observarmos o período de crescimento da década de 60 a 70, a estagnação de 80 a 90, depois a retomada de crescimento nos anos 2000 e mais recentemente esse boom global de 2003 a 2010, percebe-se que a economia brasileira não acompanhou o crescimento do cenário global, crescendo menos que os países emergentes e, em alguns momentos, menos que os países desenvolvidos, diferentemente do que ocorreu na década de 60 a 70. “É que, provavelmente, esse modelo de crescimento que um dia tivemos já se esgotou, e que, agora, o desafio é bem maior, e que os ajustes que teremos que fazer não podem mais ser os mesmos do passado”, disse, citando, ainda, os ajustes e controles de gastos feitos na década de 90 ou, mesmo, em 2003, no início do governo Lula.

Disse que o mundo pós crise de 2008 impõe complexos desafios para a continuidade de um crescimento global mais intenso. Para ele, embora a economia global se encontre em dificuldades de recuperar seu ritmo de crescimento econômico anterior, o mais importante é entender, numa ótica relativa, que cada economia tem estágios distintos da outra. Citou previsões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para crescimento da economia global para o próximo ano em torno de 2,5% ou 2,6% e disse que, se para países como os EUA, com uma renda per capita de U$ 55 mil e que vieram de um crescimento econômico médio de 4,5% até a crise de 2008, esse resultado seria dramático, o impacto que teria esse resultado para a economia de países com uma renda per capita de U$ 11mil ou U$ 12 mil, como o Brasil. “E tudo leva a crer que o mundo deve crescer menos, com este cenário atual de recuperação lenta da economia global”, afirmou, supondo-se que não haja qualquer tipo de deterioração global, como aumento da desaceleração da economia chinesa, ou eventual efeito negativo de ajustamento na Europa, ou, mesmo, retração da economia americana.

aod3Falando sobre os atuais desafios para o Brasil, o economista afirmou que há um forte plano demográfico que vai impactar na conta da Previdência de tal forma que o País não conseguirá mais escapar simplesmente fazendo pequenos ajustes, e disse que, ao observar-se uma agenda mais ampla, percebe-se que ainda hoje se discute a mesma pauta de cinco, 10, 15 ou 20 anos atrás. Lembrou que o Brasil gerou o seu boom demográfico na década de 60 e 70, com uma taxa de natalidade maior do que a de outros países, desacelerando, de uma forma muito rápida, ao longo da década de 80 e 90, provocando, assim, uma estrutura demográfica bem diferente da global. Afirmou que a sociedade terá que discutir o tipo e o tamanho de estado que quer, assim como suas formas de financiamento. “Seja o estado que for, maior, menor, mais atuante ou menos atuante, o importante é que ele precisa caber nele mesmo”. Lembrou, ainda, que os recentes movimentos por parte do governo não têm sido no sentido de uma melhora desse cenário e disse que, se o processo de impeachment encerrar, esse governo sabe que precisa fazer reformas, especialmente a da Previdência, mas fica a dúvida se terá capacidade política de fazê-las. “O que realmente mudou é a urgência e a necessidade, agora muito maior, de se fazer alguma coisa. E isso exige da sociedade uma maturidade muito maior do que ela vem apresentando até agora”, concluiu.

No final do Encontro, foi servido um coquetel aos presentes, com a cortesia da Água Mineral Sarandi, Vinícola Laurentia e Plaza São Rafael.

Estiveram presentes o vice-presidente do Corecon/RS, economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, e os conselheiros Aristóteles Galvão e Gabriel Torres. Também participaram os ex-presidentes Lauro Renck, Carlos Gonçalves Gastaud, o ex-vice-presidente Carlos Abel, além dos ex-conselheiros Vladimir da Costa Alves e Ricardo Englert.