Negócio Fechado: Inovação no mercado da pecuária

Leandro Antonio de Lemos
Diretor do Negócio Fechado, Professor, Consultor de Empresas,
Ex-Presidente Corecon-RS
Corecon-RS Nº 4667

 

Foi lançado, no dia 6 de setembro último, o aplicativo "Negócio Fechado", o primeiro "app" exclusivo de compra e venda de bovinos do País. Com o objetivo de auxiliar o mercado pecuário, o programa foi anunciado na Expointer como resultado de uma parceria entre o Instituto Desenvolve Pecuária (IDPec) e da SafeWeb Segurança da Informação. O Corecon-RS entrevistou o economista Leandro Antonio de Lemos, Ex-Presidente do Corecon-RS e atual diretor do Negócio Fechado, que contou mais sobre as funções e objetivos do aplicativo.

 

Qual o objetivo do "Negócio Fechado", primeiro aplicativo de compra e vendas de bovinos no Brasil?

O objetivo do aplicativo “Negócio Fechado” é permitir a comercialização entre produtores da pecuária para compra e venda de gado, tanto para reposição como para corte. Esse é o primeiro aplicativo do Brasil que permite o processo completo. Desde o cadastramento, certificado. Ou seja, consegue-se identificar através da administração do aplicativo se quem está anunciando realmente é a pessoa jurídica ou física, com a certificação da SafeWeb.

Como funciona?

Pode-se fazer o download do aplicativo direto pelas lojas IOS ou Android ou diretamente no site do aplicativo. Você faz o cadastro, coloca seus dados, que são protegidos em alto nível de segurança, criptografados. A partir daí, a pessoa pode fazer o anúncio no aplicativo, colocando fotografias e vídeos do seu gado para venda.

Qual o nível de segurança das informações contidas no App?

As informações são completamente seguras, tanto para quem quer comprar como para quem vai vender. O comprador entra em um chat privado com quem está vendendo, chat este também criptografado, permitindo um alto nível de segurança e impossibilitando qualquer tipo de acesso de um terceiros nas conversas entre os negociantes.

Todos as etapas envolvendo a transação podem ser feitos por ali?

A grande vantagem é que a parte interessada pode fazer o pagamento direto pelo próprio aplicativo. Nós temos uma ferramenta de segurança, de transações digitais, integrada com os sistemas bancários, o que permite o pagamento de forma muito segura. E quem está vendendo vai ter informação instantânea de que o recurso entrou em sua conta bancária. Temos a possibilidade de pagamento por TED, DOC, boleto bancário e cartão de crédito. O fato de possibilitar negociações com cartões de crédito também é um diferencial, já que o comprador pode acumular seus pontos ou “milhas” para seu cartão.

Qual a importância da certificação adquirida pelo "Negócio Fechado"?

A importância de ter a certificação do Negócio Fechado é impedir fraude e impedir que impostores entrem no sistema e abram negociação, obtendo dados dos produtores ou de seu patrimônio, protegendo-se, então, de possíveis crimes, tanto cibernéticos quanto patrimoniais.

O App é utilizado apenas dentro do Brasil ou pode ser utilizado também por clientes do exterior?

O aplicativo pode ser usado também no exterior. Inicialmente, estamos com 1800 produtores cadastrados dentro do RS e, gradativamente, estamos agregando outros estados do Brasil. E como é uma plataforma na web, ele pode ser acessado de qualquer lugar do mundo, por qualquer interessado no aplicativo.

O Talibã, a economia e o Afeganistão

 

Roberto Rodolfo Georg Uebel
Economista , Doutor em Estudos Estratégicos Internacionais,
Pós-doutorando em Geografia Política, Professor da ESPM-POA 
Corecon-RS Nº 8074

 

Qual a importância política e econômica do Afeganistão no cenário mundial?

Economicamente o Afeganistão não tem uma importância muito significativa no cenário mundial. É um país muito pobre, com um dos piores indicadores de desenvolvimento econômico, um índice de Gini muito baixo, e se localiza numa região cercada de potências econômicas, como o Irã, Paquistão e Índia, e fazendo fronteira com a China, que foi um dos primeiros governos estrangeiros a reconhecer o Talibã como governo legítimo do Afeganistão. Economicamente não tem importância tão grande como a de seus vizinhos, o que não quer dizer que o país não tenha uma importância regional e internacional. O Afeganistão é um grande produtor de commodities minerais, tanto de metais, como também de minérios, que fornece para seus países vizinhos parceiros tradicionais, e, também, na prospecção do solo, como gás e, numa quantidade bem menor, em petróleo.Politicamente, o Afeganistão está localizado no meio da Bel and Road, a iniciativa da China de expansão de suas rotas comerciais para o Oriente Médio, Norte da África e Europa. Também está na rota dos gasodutos russos em direção ao Oceano Índico, estando, portanto, o território afegão, tanto na rota da expansão comercial chinesa como da expansão energética russa, e, por isso, foram os dois primeiros países a reconhecerem o Talibã como regime de fato daquele país.


Quais os principais impactos econômicos da crise no Afeganistão?

Podemos perceber alguns impactos no sentido em que a partir do momento em que assume o governo, não tem mais acesso às reservas bancárias antes atribuídas ao governo afegão, já que as contas foram bloqueadas pelos EUA, assim como foram congelados os empréstimos do FMI, pelo fato de que não há o reconhecimento do governo Talibã como um governo legítimo, o que os coloca numa situação muito próxima à da Venezuela, do governo Maduro, que, da mesma forma, não tem acesso às suas contas bancárias. Então, os recursos que eles têm internamente são garantidos justamente por China e Rússia. Como consequência, percebe-se aí uma crise econômica que vai se transformar numa crise orçamentária, até porque sem recursos o governo afegão não consegue fazer políticas públicas. Não consegue, por exemplo, garantir acesso da sua população à vacina contra a COVID-19 ou garantir o mínimo dos serviços básicos. Por isso, deve buscar alternativas via Rússia e via China para tentar conter esses bloqueios.


Quais as consequências à economia dos EUA ao cessar gastos de mais de 20 anos de intervenção no Afeganistão?

Com relação às consequências à economia norte-americana, se estima que os EUA gastaram U$ 6,4 trilhões em 20 anos nas guerras do Afeganistão e do Iraque. Estimativas dão conta de que os EUA tenham dispendido U$ 3 trilhões na guerra do Afeganistão em 20 anos, o que foi um impacto muito grande no orçamento de defesa daquele país. Justamente por essa razão, há um clamor domésticonos EUA, do eleitorado norte-americano, tanto de democratas como de republicanos, para que os EUA deixasse aquele país. Então, os 20 anos de 11 de setembro tem a simbologia da data, mas também já havia uma pressão doméstica, no mínimo há 10 anos,desde a morte de Bin Laden, para sair do Afeganistão. Foi um impacto muito significativo no orçamento norte-americano, que, evidentemente, deixou de ser gasto em outras áreas. Cabe lembrar que o próprio sistema de saúde dos EUA é muito falho, também pelo fato de não possuir um sistema universal como o do Brasil, e, justamente, um dinheiro que poderia ter sido utilizado para o AlffordableCareAct ou Medicare, programa de saúde criado pelo governo Obama.


De que forma essa crise pode afetar economias dos países em desenvolvimento, como o Brasil?

Eu não vejo a crise geopolítica e geoeconômica do Afeganistão afetando o Brasil diretamente. Já temos as nossas próprias crises, com um governo que flerta com o autoritarismo, então eu diria que não tem como traçar um comparativo com isso. O que poderia nos afetar, aí sim,seria eventual instabilidade no Oriente Médio ou nos países vizinhos, como Índia, Irã, ou demais países, como Arábia Saudita, Jordânia, Líbia, Turquia, Bangladesh, enfim, países que são grandes compradores de commodities brasileiras, como carnes e grãos, ou, ainda, num eventual bloqueio de transporte marítimo naquela região - muito embora Afeganistão não tenha costa marítima -, que poderia afetar o transporte de commodities. Mas isso seria um cenário hipotético. Num cenário factual, verídico, não vejo impacto na economia brasileira, já que o Afeganistão não é parceiro estratégico do Brasil. Tanto que o Afeganistão teve durante três anos uma embaixada no Brasil, que acabou fechando porque as relações nunca se adensaram. O Brasil, por sua vez, nunca teve Embaixada em Cabul. As nossas relações diplomáticas são realizadas pela Embaixada do Paquistão, esse sim, um parceiro importante do Brasil. Aliás, penso que seria interessante o Brasil se posicionar recebendo os refugiados afegãos, como fez no passado. Uma demanda pequena, que contribuiria muito para a imagem do Brasil no cenário internacional.


Por que a estrutura montada pelos EUA ao longo dos últimos 20 anos não foi o suficiente para o talibãs não voltar ao poder?

Os EUA ficaram mais tempo que deviam no Afeganistão. Invadiram o Afeganistão para caçar o Bin Laden e dar uma resposta à população norte-americana, em resposta às agressões sofridas no 11 de setembro de 2001, mas ficaram mais tempo do que o necessário. Foram 20 anos de muito gasto sem conseguirem treinar efetivamente as forças armadas afegãs, ou conseguir garantir a transição às instituições democráticas afegãs preservando as características locais. Não obtiveram sucesso nessas questões. Acho, portanto, muito difícil pensar numa solução de curto prazo para o Afeganistão, que não envolva ou que deixe de envolver a participação de organizações internacionais. Não uma missão humanitária, estilo a do Haiti, mas que se tenha a permissão de organizações como a ONU e outros organismos internacionais, autorizados pelo Talibã, a conduzirem políticas de reassentamentos de deslocados internos, que já são 5 milhões de pessoas. Os interesses de China e Rússia não são meras ideologias, muito pelo contrário. Mas de garantir seus negócios na região. Então, com a saída dos EUA, esse espaço deverá ser ocupado pelas duas nações, bem como pela Turquia, Irã e Arábia Saudita.

 

A economia dos Azeites & Olivais

Eduardo Mauch Palmeira
Economista da Unipampa, Professor do Instituto de Desenvolvimento Educacional de Bagé (IDEAU/Bagé),
Editor Revista Azeites & Olivais, Consultor e Palestrante, Mestre em Integração Econômica Global e Regional (UNIA-ES)
e Gestão de Organizações Públicas (UFSM)

Qual a importância da olivicultura para a economia do Brasil e do RS?

O Brasil é o segundo maior importador de azeite no mundo, perdendo apenas para os EUA. Desta forma produzir azeitonas para a extração de azeite e para a conserva, é uma alternativa viável de produção. A olivicultura veio como uma alternativa, pois diversifica a matriz produtiva, o que é muito bom. Na época da colheita, a maioria dos produtores, ainda colhem de forma não mecanizada, o que proporciona um grande número de postos de trabalho. O país poderá crescer muito em termos de área plantada, e mesmo assim não conseguirá atender a toda a demanda nacional.

Em que época o Brasil começou a se voltar para a produção de azeite de oliva?

A história da olivicultura no país não é nova, como muitos pensam. Nós, da Revista Azeites & Olivais, estamos participando do resgate desta história, que tem sim uma importância muito grande no que diz respeito a esta cultura. Já achamos relatos de produção nas décadas de 1940 e 1950, aqui no estado do RS. Porém, em São Paulo, no mesmo período, foram encontrados os relatos de produção de azeitonas e de extração de azeite. Na fase atual, já no início dos anos 2000, alguns produtores, retomaram o cultivo da oliveira e com o sucesso que os pioneiros do século XX não o tiveram. São vários os fatores que podem ter influenciado, lá no passado. Não havia a tecnologia e o conhecimento técnico que possuímos na atualidade, bem como acesso a estudos e equipamentos, que estão fazendo a diferença no atual momento da olivicultura brasileira.

Que regiões do RS se destacam na produção de azeite de oliva?

A maior concentração, em termos de área plantada, está na metade sul do RS. Porém, a cultura da oliveira vem ganhando espaço em todo o Estado. A cada ano mais produtores/investidores estão aderindo ao plantio, e, claro, sempre em áreas que sejam propícias para isso. O município de Bagé, onde resido, poderá chegar a mais de mil hectares nos próximos dois anos. Mas se contarmos com a região da Campanha Gaúcha, esse número poderá ultrapassar os 4 mil hectares. No município de Encruzilhada do Sul há cerca de 1000 hectares plantados e em expansão.

Em que nível de qualidade se encontra o azeite gaúcho em relação aos maiores produtores mundiais?

O azeite produzido no país, isto é, não só no RS, tem se destacado em concursos internacionais, o que demonstra a qualidade do produto aqui produzido. Concursos estes realizados em diversos países, com degustadores qualificados, que identificam as qualidades do azeite extra virgem, bem como se há defeitos nas amostras. Um bom azeite não pode ter cheiro de ranço, de vinagre, por exemplo. E estes são defeitos que um azeite extra virgem não pode ter. O cuidado que os produtores gaúchos e dos outros estados produtores, como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo, têm, desde a escolha das variedades, do plantio, da colheita e do processamento (extração e envase) faz com que nosso azeite seja um extra virgem de qualidade.

Quais as expectativas dos olivicultores gaúchos para a safra deste ano?

A cada ano as expectativas são as melhores. Porém, a olivicultura também depende das condições climáticas. Vale salientar que a cada ano que passa, vamos acompanhando a chegada de novos azeites ao mercado. Isso se dá em virtude de que a produção/colheita leva em torno de cinco anos para obter a primeira safra. Esta última safra foi, para muitos produtores, uma surpresa, pois colheram bem acima do que esperavam.

O governo tem estimulado a produção do azeite de oliva?

O governo gaúcho criou a Lei Nº 15.309, de 29 de agosto de 2019, que institui a Rota das Oliveiras no Estado do Rio Grande do Sul. Os municípios integrantes são Bagé, Barra do Ribeiro, Cachoeira do Sul, Caçapava do Sul, Camaquã, Candiota, Canguçu, Dom Feliciano, Dom Pedrito, Encruzilhada do Sul, Formigueiro, Pantano Grande, Pinheiro Machado, Piratini, Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, Santana do Livramento, São Gabriel, São Sepé, Sentinela do Sul, Vila Nova do Sul, São João do Polêsine, Restinga Seca e Hulha Negra. O próprio Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva) destaca que o setor produtivo dos azeites de oliva produzidos no Rio Grande do Sul será contemplado pelo Programa Produtos Premium, do governo do Estado e que o projeto, da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (SICT), de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), Desenvolvimento Econômico (Sedec), Meio Ambiente e Infraestrutura (Semai) e a Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapergs), tem o objetivo de organizar e promover a produção, agregando valor aos produtos agropecuários gaúchos, por meio da inovação e do conhecimento. E, como consequência, estimular a economia e todos os elos que participam dessa cadeia. É importante salientar que, na época, a decisão foi aprovada por unanimidade pelo comitê gestor do programa. O azeite de oliva será o segundo produto a ser chancelado. O primeiro foi a carne, que já está em andamento.

Existe, então, uma integração por parte dos órgãos de diferentes esferas governamentais trabalhando nesse sentido?

Notamos, sim, que há um trabalho integrado sendo realizado, entre o governo do Estado e governos municipais e, ainda, o setor privado, para que não só a produção de azeite seja reconhecida, mas, também, a produção de azeitonas em conserva e produtos elaborados com compostos da oliveira.

Como está o olivoturismo no RS e em que regiões está acontecendo de forma mais efetiva?

Os empreendimentos voltados para o olivoturismo são uma nova opção para quem gosta de azeite, mas não só para estes apaixonados pelo ouro líquido. Os empreendimentos atraem por suas estruturas e belas paisagens. A região metropolitana de Porto Alegre, na cidade de Viamão, a menos de 30 km, está localizada a Estância das Oliveiras. Já, na serra gaúcha, na cidade de Gramado, o Olivais de Gramado. Esses dois empreendimentos têm ótimas atrações, com acesso fácil e diversão garantida. Na região central do Estado, em São João do Polêsine, os amantes do olivoturismo encontram o Recanto Maestro, e ainda podem desfrutar das termas. Na metade Sul do RS está a pousada Vila do Segredo, em Caçapava do Sul. Visitar a estrutura de processamento de azeites (chama-se Lagar), passando no primeiro momento pelo pomar, para ter o contato com as plantas de oliveira, e, depois, participar de uma degustação, são uma maneira de entender um pouco mais sobre este produto, o azeite. As rotas de olivoturismo vem sendo desenvolvidas e apresentadas ao turista, com o apoio de agências de turismo receptivo, que estão proporcionando várias experiências neste segmento, que incluem além do azeite, o vinho, a carne e queijos. Esta é uma harmonização que traz novas experiências, e as terras gaúchas oferecem todas elas.

Qual a importância de participar como editor de uma revista especializada?

Participar de um projeto desafiador é muito bom e estando ligado à área da educação foi uma maneira de continuar ao que nos propusemos como profissionais, uma vez que já fazia parte de conselhos editoriais de revistas acadêmicas.

Como surgiu a Revista Azeites& Olivais (A&O)?

A revista surgiu como o produto de um mestrado. A Diretora/Esposa, a Administradora Luciane Gomes, após a conclusão do seu mestrado, propôs a criação da revista, e, prontamente, o desafio foi aceito, e envolveu a família. Assim, em 2019, no mês de março, na abertura oficial da colheita, no município de Formigueiro, entregamos os exemplares da Edição 00 da Revista Azeites & Olivais (A&O). Nossa expectativa foi superada e a Revista A&O ultrapassou as fronteiras e, também, o Atlântico. E convido a quem quiser conhecer um pouco mais sobre azeites e sobre a cultura de oliveiras, que acesse as edições no site da revista. O leitor tem a opção de baixar os exemplares para sua leitura, além das edições especiais, só com receitas que em sua elaboração têm, é claro, um bom azeite. A revista é um meio de divulgar os azeites produzidos no país e no continente sul-americano, sempre levando informações para que, cada vez mais, o consumidor tenha as melhores informações sobre a temática. Visite https://azeiteseolivais.com.br
Consuma azeite! É muito bom e saudável!! Azeite em tudo!!!

O consumo de vinho sob a ótica de um Economista


 

Mauro Salvo
Doutor em Economia, Analista do Bacen,
Ex-Vice-Presidente Corecon-RS
Corecon-RS Nº 5630

 

 

De onde vem seu interesse pelo mercado de vinhos?

Frequentemente me perguntam o motivo que levou um economista a se interessar por vinhos. Costumo dizer que foi o mesmo que levou um adolescente a se interessar pelas ciências econômicas: a curiosidade e a inquietude diante de um assunto tão “misterioso” quanto fascinante. No caso do vinho, também havia a desconfiança, a dúvida de como poderia caber tanta informação, história, ciência, trabalho e paixão dentro de uma taça? Assim como quando decidi entender mais sobre economia, o mesmo se deu em relação ao mundo de Baco: no meu cérebro pairava uma dúvida sobre o que faria sentido e o que, de fato, era enganação nas falas dos especialistas.

E como surgiu a ideia do e-book?

A ideia de fazer esta pesquisa nasceu quando, ao perguntar aos agentes que atuam no setor vitivinicultor sobre o comportamento padrão do consumidor de vinho, recebia respostas pouco conclusivas. Faltavam dados robustos sobre diversas questões vitais para a análise econômica da atividade. Os vendedores, sejam eles lojistas ou produtores, conhecem os números de suas vendas, mas na maioria das vezes não sabem por qual motivo as pessoas demandam seus produtos. Esta lacuna de conhecimento pode não inviabilizar seus negócios, mas é pouco provável que otimize o retorno sobre o capital investido. Por isso o objetivo do questionário aplicado ao consumidor de vinhos no Brasil (e aos não consumidores) foi entender por que ele age de determinada maneira e quais condições seriam necessárias para mudar seu padrão de consumo. Sucintamente, a pesquisa visa delimitar as possibilidades para expansão da oferta e quais ações fomentadoras de vendas poderiam ser adotadas. Sem conhecer os números, muitas ações se tornam um “tiro no escuro”.

Quais as principais conclusões dessa pesquisa?

Sou suspeito porque acho que todas as informações do livro são muito úteis. Todavia, para ser mais específico, eu ressaltaria: as respostas que possibilitam medir a elasticidade-preço e a elasticidade-renda da demanda por vinho; os resultados referentes às preferências por gênero; e os resultados que relacionam as faixas de renda com as faixas de preços. Quanto às elasticidades, observa-se que os consumidores se mostraram pouco propensos a aumentos no consumo, seja por redução de preços, seja por aumento em suas rendas. No que tange à preferência por gênero, o resultado destrói o mito de que mulheres preferem espumantes quando mostra que cerca de 70% delas optam por vinhos tintos. Por fim, quando se confronta faixas de renda com faixas de preços, verifica-se que mesmo entre consumidores de renda alta parece haver um teto para o preço de uma garrafa de vinho, ou seja, não é uma relação proporcionalmente linear.

Qual o impacto da pandemia no mercado de vinhos no Brasil?

No que se refere a mudanças de consumo durante a pandemia, embora muitos tenham aumentado o consumo, uma boa parcela reduziu e outra manteve a demanda inalterada. A pesquisa mostrou que 42,1% aumentaram o consumo, 37,1% mantiveram a demanda inalterada, 15,5% diminuíram a compra e 5,2% pararam de consumir. No geral, durante a pandemia, o consumo de vinhos no Brasil cresceu muito. A expectativa é saber se continuará crescendo ou diminuirá, ou, ainda, para qual patamar irá no pós-pandemia.

Como os produtores brasileiros buscam atender a essa demanda?

Na realidade, a demanda por vinhos no Brasil supera em muito a capacidade de nossa oferta. A produção brasileira tem crescido, tanto nas regiões tradicionais como em novas regiões produtoras. Os produtores nacionais têm investido em novas tecnologias, seja nos vinhedos, seja na elaboração na adega. Novas castas têm sido plantadas, assim como vem surgindo novos terroirs. Mais produtores têm investido nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, bem como novos estilos de vinho vêm sendo lançados e testados no mercado brasileiro. Ações de marketing e “enoeducativas” também vêm ajudando no aumento do interesse dos consumidores. O desafio dos stakeholders do mercado é descomplicar o consumo do vinho, mostrando que o vinho pode ser “normalizado”, ou seja, pode ser consumido para comemorar um evento importante na vida das pessoas, mas, também, pode e deve ser consumido hedonisticamente no nosso cotidiano.

Quem tiver interesse em conhecer o seu trabalho, como pode fazer?

Pode fazer o download, clicando no buscador da Amazon o título do e-book, “Visitando o que pensa O CONSUMIDOR DE VINHO NO BRASIL: um olhar pela lente de um economista traduzido em estatísticas e gráficos”, https://www.amazon.com.br/dp/B09887CLV2 Haverá um custo de R$ 15,00, e a Editora é a Cinco Continentes, 1ª edição (28 junho 2021). Mais informações sobre o mercado de vinho podem ser encontradas no perfil do instagram @economista_na_adega

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