O que esperar da economia em 2016?

andre nunes de nunes

 

 

André Nunes de Nunes
Economista, Chefe da Assessoria Econômica da Fiergs
Corecon/RS nº 7567

 

Pode-se considerar o ano de 2015 como um ano perdido, para o setor?
Quando analisamos a queda de 11,8% na produção física da indústria, conforme o IBGE, é difícil não concluir que foi um ano perdido. Se, além disso, acrescentarmos a informação de que a produção também caiu em 2014 (-5,5%), a nossa conclusão é de que estamos passando por um período trágico. Nesse ínterim, muitas fábricas fecharam e diversos investimentos foram adiados.

Quais os motivos alegados pelo empresariado para a retração da economia?
A cada três meses a Fiergs realiza uma Sondagem Industrial avaliando os principais problemas enfrentados pelo setor. Desde o início desse ciclo recessivo, observamos algumas mudanças na percepção dos industriais. Em 2014, o principal problema era a elevada carga tributária, citado por 57,5% dos entrevistados. Outro item que se destacava, lembrado por 38,1% dos empresários, era a falta de trabalhador qualificado. No final de 2015, o principal entrave para o avanço na produção passou a ser a demanda interna insuficiente, com 49,8% das respostas, seguido pela carga tributária elevada (48,9%), altas taxas de juros (25,6%) e falta ou alto custo da matéria prima e da energia (22,5%). Portanto, ao longo dos últimos anos houve o agravamento dos nossos problemas estruturais, conjugado com a deterioração nas condições de mercado.

Quais as expectativas dos empresários para este ano de 2016?
A perspectiva para 2016 é de nova queda na produção. O recuo em 2015 esteve bastante atrelado à queda nos investimentos e na produção de bens de consumo duráveis. Em 2016, ingressamos em uma nova fase, em que o aumento na taxa de desemprego e a queda na renda real ajudaram a disseminar a crise para os demais ramos da economia. Nesse caso, não será surpresa se a retração em 2016 for tão intensa quanto a registrada no ano passado.

Se o País superar a crise política, o empresariado pode voltar a investir?
A crise política impacta o setor produtivo na medida em que gera uma perspectiva negativa com relação ao futuro da economia. Os agentes percebem que a trajetória das contas públicas e da taxa de inflação são insustentáveis e optam por adiar investimentos. Por isso, reestabelecer o equilíbrio macroeconômico é o primeiro passo para a retomada da confiança dos agentes econômicos. Além disso, não resolvemos os principais entraves para gerar aumento da competitividade e poucos acreditam que durante essa crise política alguns desses problemas sejam endereçados. Portanto, solucionar a crise política será determinante na medida em que se sinalize para uma mudança. Caso contrário será difícil acreditar na retomada do crescimento e dos investimentos antes de 2017.

A rede hoteleira e o verão gaúcho

abdon

 

Abdon Barreto Filho
Economista, presidente ABIH/RS
Corecon/RS Nº 4095

 

 

Qual foi a ocupação média dos hoteis no Litoral Norte durante os meses de verão?

Segundo pesquisa com os hotéis associados à Associação Brasileira da Indústria de Hoteis do Rio Grande do Sul (ABIH/RS), a ocupação média do Litoral Norte durante o verão 2015/2016, até o presente momento, está em 85%.

 

Esse número representa um avanço em relação ao mesmo período do ano passado?

Realmente, segundo as consultas realizadas, a ocupação está com 10% acima do ano anterior.

 

A que se deve esse resultado?

O principal motivo do bom resultado é a consequência da desvalorização cambial, tornando o Brasil mais atrativo. Além disso, os fluxos históricos de argentinos que são atraídos pelas praias, águas mornas, paisagens, gastronomia e hospitalidade brasileiras. As ações promocionais realizadas na Argentina contaram com as participações da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), responsável pela promoção do Brasil no exterior, pela Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer do RS (Setel), prefeituras municipais, entidades e empresas do Litoral Norte e da Costa Doce.

 

Houve avanço no número de disponibilidades?

A oferta hoteleira tem recebido entrantes, aumentando a capacidade instalada, principalmente nos casos de unidades habitacionais para aluguel. .Além disso, estão sendo realizados investimentos nos equipamentos e serviços hoteleiros.

 

Qual tem sido o impacto da presença dos argentinos em nossos hoteis?

Houve aumento de fluxos de argentinos confirmados pelas consultas aos Centros de Atenção ao Turista (CATs), vinculados à Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer. O CAT de Uruguaiana, por exemplo, registrou mais de 32 mil atendimentos na primeira quinzena de janeiro 2016. Os 28 CATs distribuídos em diferentes regiões do Rio Grande do Sul registraram o maior número de atendimentos dos últimos 15 anos. O levantamento da SETEL apontou que 93.492 visitantes buscaram informações sobre os atrativos, rotas e roteiros. Estão sendo distribuídos materiais informativos como o mapa turístico e rodoviário, mapa do Litoral Norte e Costa Doce, folheto Porto Alegre e Serra Gaúcha em idioma espanhol. Da mesma forma, folhetos dos municípios interessados no fluxo de argentinos e o folheto promocional “Rio Grande do Sul - Um Grande Destino”, em três idiomas, português, espanhol e inglês. Convém destacar, o lançamento do aplicativo Turismo RS, disponível gratuitamente nas lojas especializadas. Observou-se que em alguns hotéis, os argentinos chegam a ocupar 30% da oferta de unidades habitacionais. Entretanto, o maior fluxo de visitantes ainda é originado no próprio Rio Grande do Sul.


Que regiões do estado são mais procuradas pelos turistas argentinos?

As regiões turísticas mais procuradas são as cidades do Litoral Norte e Costa Doce. Houve fluxo de visitantes para o Noroeste Gaúcho na Região das Termas e Lagos, especialmente em função da proximidade com a Argentina. Foram registrados argentinos nas cidades de Gramado, Canela e Porto Alegre. Entretanto, a maior parte dos fluxos de visitantes continuam sendo as praias do Estado vizinho. As ações promocionais devem continuar visando à captação de novos fluxos e a ampliação de novos atrativos para a temporada 2016/2017, sempre com as parcerias dos setores públicos e privados interessados no desenvolvimento do Turismo Receptivo.

A confiança do empresário do comércio

 

patricia palermo

 

Patrícia Palermo
Economista-chefe da Fecomércio/RS
Corecon/RS Nº 6589

 

Quais os objetivos da Pesquisa do Índice de Confiança do Empresariado do Comércio, calculado pela Fecomércio?
O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) é um indicador calculado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a partir de uma pesquisa mensal de sondagem, que visa medir o nível de confiança dos empresários do setor varejista. Para o Rio Grande do Sul (ICEC-RS), a pesquisa é realizada em Porto Alegre ao longo dos dez dias anteriores ao mês de referência e abrange em sua amostra, no mínimo, 328 estabelecimentos comerciais. O objetivo da pesquisa é medir o grau de confiança do empresariado do setor na economia brasileira, na atividade e na própria empresa.

 

Quais as principais constatações na Pesquisa de janeiro e o que deve mudar para a de fevereiro?
Os dados de janeiro mostraram um empresariado bastante pessimista em relação ao momento atual, porém ainda otimista para o futuro, mesmo que em nível mais baixo do que em momentos anteriores, sustentado pelo otimismo quanto ao comércio em geral e quanto à sua própria empresa. No que diz respeito às expectativas quanto à economia brasileira, as perspectivas persistem pessimistas. A perdurar o cenário vigente, não acreditamos em uma mudança de percepção do empresariado nos próximos meses.

 

Com base nas informações, qual a tendência para o primeiro semestre e o ano de 2016?
O cenário de inflação e juros altos, atividade econômica em queda, forte depreciação cambial e resultados negativos das contas públicas são os componentes econômicos que, associados à grande instabilidade no campo político, colocam a confiança do empresariado em situação de pessimismo. Ainda que se espere que em 2016 não se registre quedas tão pronunciadas da confiança como as verificadas em 2015, é pouco provável que haja uma mudança de tendência. Enquanto não houver sinais claros de alterações consistentes na economia, a confiança permanecerá deprimida.

 

Se o País superar a crise política, o empresariado pode voltar a investir?
O Brasil convive hoje com duas crises simultâneas e que se retroalimentam: a crise política e a econômica. Para sair da crise econômica, o País precisa realizar reformas profundas, e, para isso, o governo precisaria de disposição e de um grande capital político. No entanto, nenhumas dessas duas condições se verificam. O governo ainda não está plenamente convencido dos ajustes nas contas públicas que deve promover e do grande dano que suas intervenções microeconômicas geram na dinâmica da economia nacional. No âmbito político, não há coesão nem no governo, nem na oposição. Vivemos um tempo de escassez de lideranças e com isso de adiamento de soluções. O investimento somente vai retornar à economia brasileira quando ficar clara a dinâmica do País no médio prazo, algo que hoje ninguém sabe determinar tamanha a incerteza no momento atual.

Projetos de viabilidade econômico-financeira

 abel

Carlos Alberto da Rosa Abel
Economista, Consultor de Empresas
Corecon/RS nº 3159

 

Que fatores são levados em conta para a elaboração de projetos de viabilidade econômico-financeira?
São muitas as variáveis envolvidas, cabendo destacar o fluxo de caixa projetado, que abrange a capacidade de pagamento do financiamento, bem como o mercado. É muito importante calcular a necessidade de capital de giro incremental do projeto, para que a empresa não seja surpreendida com incremento de custos e despesas além do previsto.


Esses projetos podem ter expectativa de curto, médio e longo prazo?
Sim, podem. Mas normalmente prevalece a expectativa de longo prazo, uma vez que os projetos de investimento possuem tempo de maturação maior.


Quais as probabilidades de esses projetos atingirem os objetivos no prazo e formato prospectados?
Normalmente trabalhamos com três cenários: pessimista, intermediário e otimista. E isso oferece maior tranquilidade ao empresário no que diz respeito ao possível sucesso do projeto. É importante sempre realizar uma pré-análise, verificando os objetivos do investimento e as metas num estudo simplificado, que tende a oferecer um indicativo preliminar do potencial do negócio.

 

Qual o perfil do cliente que procura esse tipo de projeto?
Pessoas jurídicas de pequeno e médio porte, com receita operacional bruta anual de até R$ 90 milhões. Mas já elaboramos diversos estudos também para grandes empresas.

 

Como está atualmente o mercado para project finance, que são os projetos estruturados acima de R$ 10 milhões?
Atualmente, em função do delicado momento econômico, o mercado apresenta baixo volume de projetos, principalmente nos segmentos da economia mais suscetíveis à crise, como o metal mecânico. Certamente, quando o cenário se mostrar mais favorável, o mercado de projetos voltará a se aquecer.

 

Quais os tipos de exigências mais comuns que uma empresa se depara quando busca financiamento?
Em momentos de crise, os bancos se tornam mais seletivos e focam a análise de projetos em empresas com menor risco e com atuação em determinados segmentos da economia. Mas as questões consideradas numa análise não alteram, como as garantias, que devem ser compatíveis com valor do financiamento solicitado, na proporção mínima de 130%; contrapartida de recursos próprios, cuja proporção depende da linha de crédito demandada; análise de mercado e viabilidade (VPL, tempo de retorno, TIR). Outro aspecto importante são as licenças ambientais, que são exigidas pelos agentes financeiros e cujo prazo de obtenção tornou-se muito elevado.

 

Que tipo de qualificação é exigida do profissional que atua na área de projetos de viabilidade econômica?
O Economista deve ter visão de longo prazo, entender os objetivos do investimento para poder projetar o fluxo de caixa da empresa considerando todas as variáveis envolvidas, como mercado, incremento da produção e vendas, capacidade de pagamento, dentre outras. É muito importante também que o consultor econômico-financeiro tenha conhecimento das linhas de crédito de longo prazo oferecidas pelo Sistema BNDES para buscar as melhores condições de enquadramento nas operações de financiamento.

 

Como está o mercado para atuação de economistas nesse tipo de projeto?
Tendo em vista o desfavorável momento econômico, o mercado se tornou mais competitivo. Porém, situações como essa podem gerar oportunidades. Além de sempre ter empresas investindo, há possibilidade de elaborar estudos de viabilidade para saneamento financeiro. Com os bancos mais exigentes na concessão de crédito, este tipo de trabalho tende a trazer maior discernimento ao agente financeiro no que diz respeito ao andamento dos negócios da empresa.

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