City Marketing e a Economia Criativa

Convém destacar que a Economia é uma ciência que estuda os processos de produção, distribuição, acumulação e consumo de bens e/ou serviços. O conceito de economia engloba a noção de como as sociedades utilizam os recursos para produções de bens e/ou serviços e as formas como são realizadas as distribuições desses entre os indivíduos.

A economia procura equacionar um dos maiores desafios da humanidade que é atender as necessidades ilimitadas dos seres humanos com os recursos limitados do planeta. A ciência econômica tenta explicar os funcionamentos dos sistemas econômicos e as relações com os agentes econômicos (empresas ou pessoas físicas), refletindo sobre os problemas existentes e propondo soluções.

As investigações dos principais problemas econômicos e as tomadas de decisões baseiam-se em quatro questões fundamentais sobre a produção: “O que produzir?”, “Quando produzir?”, “Que quantidade produzir?”, “Para quem produzir?”. A Economia Criativa é o conjunto de ações e atividades relacionadas à cultura, tecnologia, turismo, entre outros conhecimentos, gerando novos negócios com criatividade e usabilidade, resultando aumentos de receitas, empregos, impostos e a melhoria da autoestima da comunidade. A Economia Criativa é aquela que coloca a criatividade como fator central para definir os valores de bens e/ou serviços. Segundo o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), são setores nos quais os valores das produções estão fundamentados nas propriedades intelectuais e em aspectos criativos que geram receitas e impactos nos sistemas econômicos.

O City Marketing – é o Marketing da Cidade, também conhecido como Marketing do Destino é composto de uma série de ações no mercado, destacando todo ou parte do Município, com objetivos de incentivar, qualificar e promover os atrativos geográficos, históricos, culturais, equipamentos e serviços de uma cidade. Portanto, exige planejamento, organização, gestão e avaliações constantes das conquistas, resultados e continuidade de ações. Infelizmente, por falta de compreensão da ciência e arte destacadas na economia e no marketing, alguns Países, Estados e Municípios ainda não desenvolvem trabalhos profissionais para atraírem visitantes – participantes de eventos, investidores e turistas de lazer - que trazem recursos originados em outras cidades.

Outros Destinos aprenderam as combinações entre a economia, marketing e política aplicados às Cidades, à Hospitalidade, aos Eventos e ao Turismo e estão alcançando bons resultados. Os Economistas profissionais que pesquisam, estudam e trabalham com a Economia, nos seus aspectos macroeconômicos, microeconômicos, desenvolvimento social e a sustentabilidade entre a oferta e a demanda, buscam a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos. Os Economistas contribuem no Planejamento e na Gestão de Políticas Públicas, evitando-se os desmontes das conquistas anteriores nas Gestões de quatro anos nos Governos: Federal, Estadual e Municipal. Às vezes, os Gestores são neófitos que quando começam aprender as alternativas adequadas são substituídos, dificultando os avanços no desenvolvimento social econômico.

Assim, observa-se falta de continuidade das conquistas em 8, 12, 16 e 20 anos ou mais, voltando as discussões repetidas sobre Posicionamento da Cidade e as aplicações do City Marketing e da Economia Criativa. As organizações econômicas privadas sem ou com fins lucrativas são as grandes prejudicadas pelas repetições de equívocos do setor público. Será? Respeitam-se todas as opiniões contrárias. São reflexões. Podem ser úteis.

 
 
Artigo de autoria do economista Abdon Barretto Filho, mestre em Comunicação Social e presidente da ABF - Comunicação e Marketing, publicado no Site www.peloscaminhosdoriogrande.com.br

 

Pensem nisso.

A guerra das moedas


Não surpreende a equivalência e até superação do Dólar perante o Euro no mercado cambial brasileiro. No mundo inteiro, o Dólar vem se valorizando como consequência da Guerra contra a Ucrânia. Sabidamente, este efeito ocorreria.

Simultaneamente, revelou-se um duplo interesse de potências globais: a Rússia provoca a guerra para enfraquecer o Euro e os EUA tem interesse perverso que ela continue para valorizar o Dólar. Estamos num cenário de Guerra de Moedas.

A busca da hegemonia como moeda de curso internacional dominante está em cheque desde a crise de 2008. O poder americano por ter a moeda internacional provoca um desequilíbrio na economia internacional. Ao expandir a emissão de dólares - e, os EUA triplicaram a quantidade de dólares no mundo desde 2008 --, a dança dos preços relativos em cada país, favoreceram as importações e exportações de produtos americanos neste período.

A incursão Russa na Ucrânia busca fortalecer o valor econômico de suas exportações na Europa e para o resto do mundo. Um jogo de alto risco, mas uma das faces da guerra cambial. Se mais países aderirem à zona do Euro, a Rússia perdeu a aposta, se do contrário, a Rússia consegue seu objetivo.
Estamos diante uma necessária reestruturação do sistema financeiro internacional, senão será uma longa guerra. O acordo de Bretton Woods já caducou faz tempo, e as agendas para essa reformulação estão mais do que atrasadas.

A disparada das taxas de juros e da inflação internacional é mera consequência, e as medidas imprudentes tomadas pelo governo brasileiro em ano eleitoral, aumentam o risco de uma volta a oitentização da espiral inflacionária brasileira.

Com a Pandemia, tornou-se visível a desorganização das cadeias produtivas internacionais e a retomada provocou uma escassez de insumos e matérias primas estrutural. Ambiente favorável para uma disputa de espaço pelos senhores da guerra.

Artigo de autoria do economista Leandro de Lemos, professor Universitário, empresário e ex-presidente do Corecon-RS, publicado no Jornal Zero Hora, edição de 13 de junho de 2022. 

 

A contradição entre a força do agronegócio e a fome no Brasil

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de alimentos e um dos maiores exportadores para o planeta, devendo manter esta condição nos próximos anos, devido ao ritmo de crescimento que vem apresentando no segmento agropecuário. Ao mesmo tempo em que cresce a oferta de alimentos no país, cresce o numero de brasileiros que passam fome. Nos últimos 30 anos, a história da produção agrícola no Brasil evolui de forma exponencial. Muitos dos espaços férteis nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso do Sul, deram respostas imediatas à produção com tecnologia advinda da pesquisa. Nesse sentido, a EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, tem participação direta nessa conquista, que não para de crescer com avanços no conhecimento praticados em novos espaços como cerrados no Centro-Oeste, antes considerado zonas marginais para cultivos e exploração pecuária.

O primeiro desafio na produção de alimentos abundantes e baratos para uma crescente população urbana foi atendido. Numa segunda etapa, ocorreu com a exploração de grandes áreas na produção de grãos e pecuária para atender o mercado externo e com isso somar divisas para a importação de bens de capital para a indústria, a princípio plenamente atingida. A contradição, nesse caso é constatar que, enquanto milhões de brasileiros passam fome as exportações de alimentos decolam num ritmo crescente.

Embora integre a cadeia produtiva do país, o agronegócio é um mercado dominado globalmente por um seleto grupo de multinacionais. Juntas, as empresas ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus, controlam 70% da produção, comercialização e transporte de produtos agrícolas. O setor é marcado por sucessivas aquisições entre grandes marcas, que aumentam a concentração dos mercados de sementes, agroquímicos e terras. Nessa configuração, o foco do agronegócio está no atendimento da demanda global por commodities, que vivem um boom de preços. Os resultados expressivos alcançados pelo segmento no Brasil se justificam também pela desvalorização do real que torna os produtos mais competitivos no exterior. A exportação do agronegócio brasileiro, de certa forma, não compete com o mercado interno.

No cotidiano os brasileiros contam com os alimentos advindos da chamada “agricultura familiar”, responsável por 70% dos alimentos que chegam à sua mesa. Por se tratar de um segmento produtivo, importante para a segurança alimentar no país deveria merecer atenção especial das políticas do governo, da mesma forma que ocorre com o agronegócio. Mesmo sem a atenção que merece, os agricultores familiares têm alcançado contribuições relevantes na produção de hortaliças, frutas e legumes. Esse segmento já sofria antes e durante a pandemia, mas continuou produzindo, enquanto a quase totalidade dos brasileiros, por imposição ficou em casa.

Embora o aumento da fome tenha relação direta com os efeitos econômicos da pandemia, a situação já vinha se agravando nos últimos anos, onde a insegurança alimentar nos lares dos brasileiros das classes menos favorecidas já era sentido. O problema do custo alto dos alimentos hoje é uma questão não só brasileira, mas mundial, ocasionado pela alta dos insumos, problemas climáticos severos como a seca ou excesso de chuvas, agravado pela inflação, guerra na Ucrânia, custo do petrôleo, alto índice de desemprego e, principalmente pouco apoio político a quem continua produzindo.

Os próximos mandatários do país terão aos seus encargos definições importantes a fazer nas próximas décadas; manter o agronegócio no mesmo ritmo sem esquecer-se da produção interna de alimentos para assegurar um futuro mais justo e sustentável para toda a população brasileira, independente das classes sociais. 

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, no dia 14/07/2022.

O papel da educação financeira no empoderamento feminino

A educação financeira é cada vez mais relevante na vida das pessoas. O que antes era tratado como tema apenas de “magnatas” e grandes empresários, falar sobre dinheiro - ou da falta dele - torna-se mais comum e necessário entre pessoas de todas as camadas sociais. E é notável o esforço de quem está buscando fazer o salário render ao longo do mês. Hoje não basta apenas ter uma renda, mas o cidadão deve aprender como geri-la de uma forma ótima.

Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a educação financeira pode ser definida como "o processo pelo qual consumidores/investidores financeiros aprimoram sua compreensão sobre produtos, conceitos e riscos financeiros e, por meio de informação, instrução e/ou aconselhamento objetivo, desenvolvem as habilidades e a confiança para se tornarem mais conscientes de riscos e oportunidades financeiras, a fazer escolhas informadas, a saber onde buscar ajuda, e a tomar outras medidas efetivas para melhorar seu bem estar financeiro". A Organização inclui no documento de Recomendação sobre os Princípios e as Boas Práticas de Educação e Conscientização Financeira que isso vai além do fornecimento de informações e do aconselhamento financeiro, e diz que é uma atividade que deve ser regulada por conta de tratar de clientes financeiros, por envolver uma série de questões como sigilo de dados, por exemplo. Também diz que os programas de educação financeira devem se concentrar em questões de alta prioridade do planejamento, bem como pré-requisitos para conscientização financeira, como noções de matemática financeira e economia. O que faz com que este assunto seja de fundamental importância aos economistas, que não ficam alheios a estas importantes questões que envolvem o conhecimento do tema e a luta por medidas que ainda não foram completamente alcançadas neste âmbito, mesmo sendo um conteúdo relativamente novo dentro do espectro das ciências econômicas.

Durante o período em que trabalhei em um banco, percebi que a falta de educação financeira da população se fazia presente em todos os níveis sociais, independente de renda. Todos precisavam entender melhor sobre o dinheiro e o sistema que o envolvia. E o público que percebi que mais precisava entender sobre essa relação foi o feminino, talvez por identificação com “a mocinha que atende nas mesas do banco”. Alguns casos chamaram atenção: os vários casos de viúvas que me confidenciaram não saberem lidar com as questões financeiras após o falecimento do marido; jovens que, ao casarem, sempre deixavam o esposo como primeiro titular da conta; a senhora que não entendia como a instituição financeira tinha a “audácia” de cobrar juros de uma aposentada. E não parava por aí. Quando deixei o banco e resolvi trabalhar com educação financeira em consultorias, continuava: mulheres que precisavam organizar as suas finanças pois haviam sido demitidas ao voltarem da licença maternidade; casos de descontrole financeiro e compras por impulso; a mulher que trabalhava e entregava o seu salário para o marido administrar; produtos e aplicações financeiras mal vendidas ou como venda casada. Isso acontece diariamente. E, assim, a todo momento uma mulher está deixando dinheiro na mesa, investindo mal, perdendo a sua capacidade de fazer boas escolhas, ou até mesmo perdendo a sua vida em um relacionamento abusivo por não ter o poder e o conhecimento em fazer e gerir o próprio dinheiro. Também acompanhei a disseminação dos blogs, criei um, vi a velocidade do compartilhamento das informações e o crescimento dos conteúdos voltados ao universo feminino, como moda e beleza, o qual há grande influência do marketing. Assim, eu via mulheres se endividando para ter tudo que viam nas redes sociais. Foi assim, diante da necessidade de levar o conhecimento para as mulheres, que o blog tomou a forma que tem hoje: A Economista de Batom é trata de assuntos relacionados à economia e finanças, empreendedorismo e empoderamento, bem como processos de escolhas e comportamento. O objetivo é que haja cada vez mais “batom” nas mesas de reuniões, pois a mulher não precisa perder a sua identidade para ser profissional e “que no vermelho fique só a cor do batom”, frase que uso para designar os cuidados com as suas finanças.

Considerando a evolução histórica das conquistas femininas, ainda é muito recente a possibilidade que a mulher tem de fazer escolhas por si mesma. A maioria, que antes cumpria o seu papel na sociedade apenas como cuidadora do lar e dos filhos, hoje tem seu papel de boa gestora reconhecido através de algumas pesquisas, como o estudo “Mulheres São Melhores Líderes Durante a Crise”, realizado pela “Harvard Business Review”, que apontou que cargos de liderança ocupados pelo sexo feminino demonstram maior eficiência na solução de problemas em tempos de crise. E isso também foi reconhecido na administração de países com lideranças femininas durante a pandemia. Assim como outro estudo que demonstra de que forma a presença de mulheres na alta administração se relaciona com o desempenho ESG (do inglês: avaliação ambiental, social e da governança) de empresas brasileiras. Os resultados indicam que, ainda que o número de mulheres nestas posições seja muito baixo, a presença delas no comitê executivo está associada a um melhor desempenho socioambiental.

Segundo o IBGE, as mulheres somavam 52,2% da população no Brasil em 2019, também eram maior número entre os idosos. Acontece que o gênero feminino ainda é maioria no Brasil, porém, mesmo em meio às transformações ocorridas ao longo do último século, como o crescimento da participação feminina no mercado de trabalho, grau de escolarização e acesso à informação, ainda seguem dedicando relativamente mais tempo aos afazeres domésticos e aos cuidados de pessoas, o que faz com que elas venham a empreender por necessidade, trabalharem informalmente ou em empregos com turnos reduzidos. As mulheres também atingem em média um nível de instrução superior ao dos homens, por outro lado, a mesma pesquisa mostrou que as mulheres brasileiras receberam cerca de 77,7% do rendimento dos homens.

A entrada tardia da mulher no mercado de trabalho e as motivações pelas quais isso se deu são considerações a serem feitas. Muitas mulheres se viram sozinhas nos tempos de guerra e precisaram tratar de assuntos financeiros mesmo sem ter conhecimento. Os tempos são outros, mas pouco mudou. As mesmas habilidades que fazem delas boas líderes e estudarem mais também são as mesmas soft skills (habilidades comportamentais) que fazem com que sejam mais consideradas a cuidarem dos filhos e, assim, dispõem de menos horas dedicadas ao trabalho. E esse perfil cuidadoso, colaborativo, empático e multiplicador também faz com que seja a mulher que realize a gestão dos recursos financeiros da casa - herança da época do “homem-provedor”. Por outro lado, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o percentual de domicílios brasileiros chefiados por mulheres saltou de 25%, em 1995, para 45% em 2018, devido, principalmente, ao crescimento da participação feminina no mercado de trabalho. E apesar da desigualdade salarial entre gêneros ainda persistir fortemente, contribuem cada vez mais com a renda das famílias. Além disso, o estudo do painel de domicílios da Nielsen (empresa global de análise de consumo) explorou o comportamento da mulher brasileira no último trimestre de 2018: 96% são responsáveis pelo consumo dos lares, ou seja, a mulher é quem faz a gestão do orçamento doméstico e escolhe como gastar, mostra também a tendência em reduzir os gastos em tempos de crise para ter maior controle do orçamento.

Assim, aquela fama da “mulher é gastadeira” torna-se cada vez mais compreensível, ainda que não mais justificável, diante do fato da mulher se tornar cada vez mais responsável pelas finanças, ter mais gastos pessoais (e mais elevados) do que os gastos masculinos. Essa falsa visão da relação das mulheres com o dinheiro precisa ser desmistificada. Acredito na educação financeira para as mulheres por serem naturalmente multiplicadoras de informações, também para que possam ser livres de relacionamentos abusivos e de trabalhos que não as dignifiquem. Acredito na educação financeira tratada de forma comportamental, sistêmica e prática, aplicada às empreendedoras, empresárias, aos casais, às crianças, jovens e idosos.

Estudo do Banco Mundial (The impact of high school financial education–experimental evidence from Brasil) em um projeto piloto de educação financeira aplicado no ensino médio, entre 2008 e 2010, na rede pública dos estados do Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Tocantins e do Distrito Federal, concluiu que a experiência de se informar sobre finanças produziu mudanças significativas. Analistas do Banco Mundial constataram o aumento de 1% do nível de poupança dos jovens que passaram pelo programa; 21% a mais dos alunos passaram a fazer uma lista de acompanhamento dos gastos; 4% a mais dos alunos passaram a negociar os preços e meios de pagamento ao realizarem uma compra. E temas como orçamento, planejamento e taxas bancárias entraram na pauta das famílias por causa dos deveres de casa. O relatório concluiu ainda que esse resultado indica que jovens educados financeiramente podem contribuir para o crescimento de 1% do PIB do Brasil. A educação financeira, como consta nos princípios do Relatório da OCDE, “deve ser considerada no arcabouço regulador e administrativo e deve ser tida como ferramenta para promover crescimento econômico, confiança e estabilidade”.

Clique AQUI para acessar o artigo na Revista Economistas

Artigo de autoria da economista Janile Soares, publicado na Revista dos Economistas (Cofecon), do mês de Julho (p.56-57). Janile é consultora e educadora financeira, autora do blog A Economista de Batom, cofundadora da Build Planejamento Financeiro, conselheira e coordenadora da Comissão de Educação Financeira e Empreendedorismo, do Corecon-RS. 

Como gerar uma dívida impagável: o caso gaúcho

Com a entrada em vigor do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), muitos economistas alertaram que ele não trará a sustentabilidade fiscal as contas públicas estaduais, havendo um processo de  acumulação de dívida. O ex-Diretor do Banrisul, Ricardo Hilgel, estimou que a reestruturação do passivo  estadual previsto no novo regime, com valor de face de R$ 74 bilhões, atingirá a R$ 168 bilhões ao final do contrato. Para o Auditor do Tribunal de Contas, Filipe Costa Leiria, o Estado dificilmente conseguirá cumprir a projeção de superávit fiscal prevista no Plano de Recuperação Fiscal (ZH, 29/06/2022).

A OAB tramita com uma ação na Justiça, questionando os critérios financeiros do contrato da Lei n.º 9.496/97, o que poderia reduzir parte relevante desse passivo. Ainda que seja válido e meritório criticar o anatocismo da dívida e as demais cláusulas, não me parece correto dizer que a dívida já foi paga, seguindo uma argumentação próxima ao da Deputada Luciana Genro. A expansão do endividamento estadual decorreu devido aos juros elevados (6% ao ano) mais a indexação (IGP-DI), à conta resíduo e à influência da política monetária do Governo Federal no período 1994-98, quando a dívida gaúcha estava federalizada. Em 2015, o governo Federal reduziu os juros do Acordo da Dívida para 4% ao ano e a indexação para  4% +  IPCA ou Selic, o que for menor.

Tudo isso é bastante documentado na literatura sobre as finanças estaduais e em Relatórios da Dívida da Sefaz/RS. Também deve ser dito que o assunto foi avaliado pelo Tribunal de Contas do Estado. Se houvesse ocorrido pagamento excessivo, o TCE teria sido muito ineficiente enquanto ao órgão fiscalizador das contas estaduais. Para um refinanciamento que começou com R$ 7,9 bilhões (em 16/11/98), passou para R$ 74 bilhões em 2022, e que o principal já foi pago, cabe indagar como poderia ter ocorrido tal situação hipotética?

Também é preocupante que o nosso Parlamento tenha aprovado um regime fiscal, que elevará o passivo estadual,  com todos os condicionantes impostos pelo Governo Federal. Faltou maior tempo para apreciação da matéria após 5 anos de negociação? Enfim, teremos até um comitê de servidores (não eleitos), acima do Governador, para ditar e corrigir a política  fiscal do Estado.

O artigo aprofunda as considerações iniciais e apresenta uma estimativa do custo do RRF e o processo de acumulação de dívida.

 

Leia o artigo completo aqui!

 

Artigo de autoria do economista, auditor-fiscal aposentado da Secretaria da Fazenda do RS, Roberto Balau Calazans, publicado no blog "FinançasRS", www.financasrs.com.br

Como atrair visitantes para nossa cidade?

Como atrair visitantes para nossa cidade?

Realmente, queremos visitantes?

Será que a comunidade quer receber visitantes?

Será que temos atrativos geográficos, históricos, culturais, equipamentos e serviços capazes de atraírem visitantes?

Quais os recursos humanos, materiais, financeiros e sistêmicos que podem ser aplicados para atraírem visitantes?

Quais as responsabilidades dos setores públicos e setores privados?

Na realidade, as respostas podem ser incluídas nos diagnósticos profissionais.

Não bastar querer e ter boas intenções se não houver o entendimento do fenômeno turístico e a série de seus impactos na comunidade e na economia local.

Além disso, no caso do setor público, os constantes equívocos dos excessos de planos e estudos repetidos que as novas gestões pagam e esquecem de executá-los devido às faltas de gestores comprometidos e/ou dos neófitos sem conhecimentos técnicos.

No caso do setor privado, onde as variáveis incontroláveis pressionam os resultados, sempre espera-se apoios dos setores públicos, indispensáveis, principalmente na infraestrutura e na promoção do Destino Turístico.

Sim, investir em Promoção Turística utilizando-se a Comunicação Integrada para apresentar as boas notícias nos mercados emissores são indispensáveis para atraírem visitantes.

É como pedalar uma bicicleta: ao parar, interrompe o deslocamento. É ingenuidade acreditar que as eventuais boas notícias nas mídias locais consigam atingir potenciais visitantes residentes em outras cidades do Brasil e do exterior.

No Turismo, é o cliente que se desloca até os atrativos.

O produto turístico só pode ser consumido no local onde é produzido.

Isto é ciência e arte.

Há muitos anos que os principais Destinos Turísticos são mantidos com orçamentos adequados e fundos financeiros construídos com os impostos e taxas pagos pelos hotéis, agências de viagens, organizadores de eventos, restaurantes, entre outras empresas dos setores comerciais e de serviços interessados no fenômeno.

Infelizmente, quando acabam com o Fundo de Promoção do Turismo Receptivo (City Marketing) e apresentam baixos recursos orçamentários, fortalecem a concepção de que o desenvolvimento do setor não é levado à sério.

É lamentável.


Convém salientar, se queremos fluxos de visitantes, a sequência lógica para desenvolvimento do Turismo Receptivo testada em todo o mundo, deve ser lembrada:
-> 1º. Estruturar a Oferta Turística;

-> 2º. Qualificação de bens e/ou serviços para o bem receber;

-> 3º.Promover o Destino Turístico;

-> 4º.Apoiar a comercialização dos Produtos Turísticos;

-> 5º.Avaliar os resultados, principalmente na geração de emprego e renda e os acréscimos nos impostos e taxas municipais e, como destaque, a melhoria da autoestima da comunidade local.
 

São desafios profissionais que não podem depender da gestão temerária de neófitos no setor.

Convém salientar que, no mercado, existem pessoas físicas e jurídicas experientes querendo contribuir na Gestão do Destino Turístico.

Será?

Respeitam-se todas opiniões contrárias.

São reflexões.

Podem ser úteis.

Pensem nisso.
 
Artigo de autoria do Mestre em Comunicação Social e Presidente da ABF - Comunicação e Marketing, economista Abdon Barretto Filho, publicado pelo jornal Cidade de Gramado Online, no dia 30 de junho.
 

Speculative trading in Bitcoin: A Brazilian market evidence

This paper tests the speculative trading in Bitcoin Brazilian market using daily data for Bitcoin spanning the 2011–2018 sample period. Two points are examined: the first is based in stylized facts about price dynamics on Brazilian market and the second implies in testing the hypothesis that speculative trading in Bitcon is resposible for its unusual volatility level. We check the existence of speculative trading in the Brazilian market based on three different experiments, broadly relevant to both market participants and academic researchers. Our results are summarized as follows: (i) The Bitcoin's bull on Brazilian market presented short duration, given the volatility exposed into period, showing signs of asymmetry in marketinformation and uncertainty; (ii) It was observed the different trajectories between volatilityand return, reflecting the high degree of speculation of the market; (iii). It was proved the ex-istence of speculative trading in Bitcoin's Brazilian market through three different experiments.


Artigo de autoria do economista Giácomo Barbinotto Neto  e de Emanuelle Nava Smaniottoa, professores da Universidade Federal do RS (Ufrgs), publicado na editoria The Quarterly Review of Economics and Finance, do Site sciencedirect.com

Clique AQUI para acessar o Artigo 

 

Suportando decisões na advocacia

A gestão empresarial requer que os donos do negócio possam dispor do maior número de informações para a tomada de decisões. A economia moderna exige que essa geração de informações seja automática e veloz para que o tempo seja mais um recurso a favor da empresa. A disponibilização de números, dados e indicadores devem estar em consolidados canais de registro para que seu resgate possa acontecer a qualquer momento.

A importância é a mesma em qualquer empresa, inclusive quando se trata de escritórios de advocacia. Registrar as informações processuais, de apoio administrativo-operacional-jurídico, administrativas e financeiras é decisivo para a permanência do escritório no mercado. O que há de diverso na advocacia são os registros processuais e os procedimentos que deles decorrem no âmbito da operação do Escritório.

Cada atividade, tarefa ou, ainda, movimento de controle de prazos ou audiências exige seu apontamento de forma metodologicamente estruturada e em software apropriado e específico para esta área de atuação. A alta administração e a equipe precisam estar alinhadas e com suas atividades e responsabilidades padronizadas e previamente estudadas para que os movimentos internos resultem em informações e gerem conhecimento para deliberações no negócio.

Temos hoje a controladoria jurídica, uma especialização dentro da advocacia, que tem como objetivo, além de controlar todas as atividades processuais e consultivas, também dispor dos indicadores de todos os setores e áreas de sua responsabilidade.

O controlador jurídico (controller jurídico) é o profissional que tem como dever e obrigação fazer e manter as informações e registros atualizados. Essa é uma nova área de atuação cuja empregabilidade está em alta, eis que requer capacitação e qualificação profissional.

Artigo de autoria da economista, advogada e sócia da Resultato Gestão em Escritórios de Advocacia, Marisa Golin da Cunha, publicado no Jornal do Comércio, dia 14 de junho.

Os desafios no mercado de bens e/ou serviços

Em uma economia de mercado, é a demanda que determina o sucesso ou o fracasso para as empresas e entidades. Atender demanda, aumentar a demanda, diminuir a demanda, adaptar-se à demanda, antecipar-se à demanda ou criar demanda são alguns dos desafios dos gestores em todo o mundo para competir no mercado. A grande mensagem é que, se não existe demanda, é muito difícil manter a oferta de bens e/ou serviços que se produz. Afinal, é perda de tempo e dinheiro produzir bens e/ou serviços que não atendem às demandas. A decisão deve ser racional e buscar alternativas, inclusive para sair do mercado em que se atua. Além disso, o poder da demanda pode indicar necessidades de melhorias, inclusive para que a oferta torne-se adequada. Convém destacar que existem questões básicas indispensáveis para participar da economia de mercado. Produzir o quê? Para quem? Como? Quais as combinações dos fatores de produção que serão utilizados? Quais as ameaças e oportunidades? Quais as necessidades que são atendidas? É frustrante produzir bem /ou serviço que se tem e não é valorizado? As ameaças e as oportunidades continuam enfrentando as variáveis controláveis, exigindo novas visões das demandas e decisões ágeis para atendê-las ou, simplesmente, sair do mercado em que se atua.

O mundo mudou, a demanda mudou, o cliente mudou e os desafios aumentam para viver no competitivo mercado. A história registra iniciativas de ações no mercado realizadas fora do tempo adequado para ser absorvido pela demanda. Assim como ações que iniciaram novos ciclos de vidas nos mercados criando novas demandas e novos mercados. Atualmente, existe uma grande busca por uma série de novos bens e/ou serviços geradores de empregos e rendas, nem sempre com as taxas de sucessos. Logo, salvo melhor juízo, algumas vezes, surgem expectativas que ignoram as conquistas civilizatórias das sociedades organizadas, incluindo a ordem mundial e os papéis dos modelos econômicos, sociais, ambientais e políticos.

Quais as alternativas para enfrentar as novas realidades para viver no século XX!? Quais as adaptações às mudanças climáticas? Aos avanços tecnológicos? E os modelos econômicos continuam os mesmos? Às questões ideológicas? E os modelos políticos? Como entender as desregulamentações dos mercados sem esquecer o aumento da população mundial, a longevidade e a produção de alimentos? Muitas perguntas sem as respostas adequadas que garantam a ordem mundial atual e o bem-estar dos habitantes enquanto a miséria, a pobreza e a corrupção estão presentes e envergonham todas pessoas que querem fazer o bem sem olhar a quem. Mas sejamos otimistas. Sempre. A união de cérebros e boas experiências mundiais deverão salvar os mercados de bens e/ou serviços, incluindo o turismo e a hospitalidade. E, principalmente, o nosso planeta. Será? Respeitam-se todas as opiniões contrárias. São reflexões. Podem ser úteis. Pensem nisso.

 

Artigo de autoria do Mestre em Comunicação Social e Presidente da ABF - Comunicação e Marketing, economista Abdon Barretto Filho, publicado pelo jornal Correio do Povo no dia 7 de junho.

Estado e mercado

É dever constitucional de o Estado brasileiro cuidar da saúde da população, da segurança pública, da educação, ou seja, dos direitos à vida, liberdade, igualdade, segurança e à propriedade, conforme consta na Constituição Federal de 1988.

Na prática, o Estado desenvolve outras atividades, algumas das quais contestadas pela população, que entende que poderiam ser desempenhadas pela iniciativa privada com mais competência. Mesmo assim, o Brasil controla 200 estatais federais, sendo 46 delas gestadas diretamente pela União. Dessas, 37 são empresas públicas, isto é, com capital de propriedade exclusiva da União. Além do mais, o Estado brasileiro também possui o controle direto de seis empresas de economia mista. Os discursos sobre a ineficiência do Estado na administração das empresas públicas sempre estiveram na pauta dos políticos liberais que alegam que a excessiva intervenção do Estado na economia atrapalha o cálculo econômico e a racionalidade empresarial, o que impacta negativamente no progresso da sociedade. Em síntese, os defensores do Estado mínimo são favoráveis a reduzir a atuação do Estado as suas funções básicas.

Por outro lado, aqueles que não concordam com a redução do Estado alegam que os seus defensores representam um seleto grupo de privilegiados que somam apenas 1% da população que concentram mais de 30% de toda a renda nacional, ou, talvez grupos mais reduzidos. 

É admissível que algumas das empresas administradas pelo Estado tenham servido de cabide de empregos políticos e atuado por longo tempo deficitárias, outras, porém, cobiçadas pela iniciativa privada tem proporcionado resultados positivos para o governo e para a população, como no caso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Companhia Nacional de Abastecimento, Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, entre outras.

O Brasil é um país desigual, a maioria da população vive em condições absolutamente precárias, onde mais de 60 milhões vivem abaixo da linha da pobreza e quase 20 milhões já está abaixo da linha da extrema pobreza, situação agravada com a pandemia. Esses argumentos fortalecem a importância das políticas públicas como a melhoria do SUS, da educação, da segurança e não do esvaziamento do Estado e do serviço público. A verdade é que não há exemplos na história ou na experiência internacional que nos permitam associar Estados mínimos com desenvolvimento econômico. Estados bem estruturados que atendem as necessidades básicas da população, em vários aspectos como, de infraestrutura, são os que mais atraem investimentos, exceto investimentos predatórios que só fazem aumentar a pobreza e a miséria por onde andam. Estados sem a distribuição minimamente justa da renda não têm mercado interno, logo, deixam de ser atrativos para os investimentos produtivos.

A defesa intransigente da redução do Estado, portanto, não se justifica no desenvolvimento econômico nem na ampliação dos direitos sociais, mas pode estar associada a outras razões, que nem sempre são claramente expostas, por serem impopulares. Não há dúvida que as políticas públicas significam a garantia de acesso aos direitos à maioria da população, mas, por outro lado, significam redução de espaço para o mercado privado. Se o Estado fosse eficiente na execução de uma educação pública gratuita e de qualidade para todos, tal como nos orienta a constituição Federal, o ensino privado não teria qualquer atrativo para se estabelecer. Se o país tivesse um sistema de saúde público de excelência para toda a população, não haveria tantos planos de saúde privados. E se a Previdência Social fosse transferida para o setor financeiro, como foi proposto na versão original da Reforma da Previdência, o que seria das aposentadorias?

Sempre haverá disputa entre o Estado e o mercado, pois onde o Estado social se fortalece, o mercado perde espaço, e o inverso também é verdadeiro.

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS e diretor da Associação Comercial de Pelotas (ACP), economista João Carlos Medeiros Madail, publicado no Diário Popular de Pelotas, edição do dia 02/06/2022.

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