Colcha de Retalhos


É assim que estudiosos respeitáveis de pobreza chamam nossa rede de proteção social. Ela é o resultado de uma construção histórica de programas decorrentes de justas demandas sociais de cada época. O problema é que pouco conversam e evoluem ao longo do tempo, deixando muitas famílias vulneráveis, expostas aos mesmos riscos, com distintos níveis de acesso e cobertura.

Um estudo publicado pelo IPEA, em 2019, certamente, esteve na base teórica do Renda Brasil. Tão interessante quanto a própria proposta – combinação de benefícios universais com adicionais para famílias pobres com crianças de até três anos de idade (política pública baseada em evidências), são os dados sobre a cobertura dos programas no radar da unificação.

Bolsa Família, Salário Família, Abono Salarial e o gasto tributário associado às deduções do imposto de renda por dependente criança/adolescente, somavam, em 2017, o montante de R$52,76 bilhões. Em comum, todos estes programas têm, entre os objetivos centrais, a proteção contra os agravos da pobreza. Mesmo assim, 6,8 milhões de crianças do terço mais pobre das famílias brasileiras estavam sem acesso a nenhum deles.

Critérios disfuncionais de seleção dos beneficiários e diferentes montantes distribuídos pelos programas estão no cerne da questão. Salário Família e Abono Salarial, por exemplo, são atrelados à participação no mercado formal de trabalho. Não faz sentido. Informalidade é traço marcante de pobreza em países de renda média. Os mais pobres estão constantemente expostos às oscilações da economia sem acesso aos benefícios que um emprego formal oferece (seguro desemprego, FGTS, etc.). A pandemia causada pelo COVID-19 ilustra essa obviedade.

A unificação dos programas para racionalização e incremento de qualidade na focalização da rede proteção social ficou para o futuro. Ao menos o debate foi posto. A redução da pobreza e a quebra de sua persistência intra e intergeracional passa pelo aperfeiçoamento dos programas que já temos. É tema importante demais para figurar apenas na agenda de governo, deve ser prioridade de Estado.

 

Artigo de autoria do conselheiro do Corecon-RS, economista Felipe Garcia Ribeiro, publicado na Zero Hora, do dia 18/09/20, página 21. 

Os atrativos turísticos mundiais de Porto Alegre

Convém lembrar que a definição mais utilizado sobre o Turismo é o da OMT- Organização Mundial do Turismo (1994) compreendendo as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios e outros. O fenômeno turístico vem ganhando cada vez mais importância, seja pela capacidade de gerar emprego, renda, impostos, além da inclusão social e autoestima da população do núcleo receptor. É óbvio que exige profissionalismo para o planejamento e estruturação da oferta, qualificação da série de bens e/ou serviços turísticos, promoção continuada nos mercados emissores e avaliações dos resultados alcançadas. Infelizmente, existe uma ignorância pluralista de alguns gestores, principalmente no setor público, e a baixa capacidade de investimento do setor privado. Convém destacar que uma atração turística (também chamado de atrativo turístico ou ponto turístico) é um lugar de interesse que os turistas visitam, geralmente por seu valor cultural inerente ou exibido, importância histórica, beleza natural ou artificial, originalidade, porque é raro, misterioso, ou para recreação e diversão. Como resultado, salvo melhor juízo, temos dificuldades para identificar e valorizar os atrativos turísticos e suas transformações em produtos turísticos capazes de atraírem fluxos de visitantes nacionais e internacionais. Entretanto, algumas cidades apresentam atrativos naturais, culturais (inclusive manifestações do povo através dos eventos) e equipamentos perfeitamente incluídos nos destinos urbanos, necessitando apenas de investimentos na composição e qualificação do serviços receptivos. No caso de Porto Alegre, capital dos gaúchos, observa-se a existência de uma oferta turística de categoria internacional que necessita uma maior divulgação e promoção nos mercados emissores, assim como novas estratégias de distribuição e a comercialização.

Logo, pode-se concluir em primeira instância que os atrativos turísticos mundiais existentes em Porto Alegre são: Lago Guaíba (beleza cênica que compõe a geografia da cidade e serviços regulares de passeios); Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS (considerado um dos maiores e mais completos do planeta);  Fundação Iberê Camargo (primeira edificação do arquiteto português Álvaro Siza, referência arquitetônica para Porto Alegre e para o país); Arena do Grêmio; Estádio do Internacional.

Nos dois equipamentos da dupla GreNal são realizados eventos desportivos, entre outros, transmitidos para o mundo. Um bom exemplo aconteceu durante as competições do futebol da Copa FIFA 2014 em Porto Alegre. O competição entre a França e o Honduras, no Estádio do Beira Rio - Internacional, foi apresentado um vídeo da FIFA TV de 1 minuto antes do jogo de futebol acompanhada por um bilhão e 200 milhões de telespectadores, segundo informações colhidas na imprensa francesa, atraindo interesses planetários. Logo, salvo melhor juízo, o Turismo Receptivo de Porto Alegre, tem atrativos turísticos mundiais, necessitando de mais ações cooperadas e compartilhadas para atrair visitantes nacionais e internacionais. É uma boa pauta para os candidatos e empreendedores interessados no desenvolvimento do setor em Porto Alegre. Sem romantismo do eu “acho” e mais profissionalismo. Será? São reflexões. Podem ser úteis. Pensem nisso.

Artigo, de autoria do economista Abdon Barretto Filho, publicado no jornal Correio do Povo, de 16/09/2020, página 2.

 

*Economista, Mestre em Comunicação Social

Covid-19: crises e oportunidades

A crise econômica decorrente da Covid-19 deixará um legado de drásticas consequências econômicas e sociais. O Brasil e seus entes federados, União, Estados e Municípios precisam adotar medidas para amenizar a situação e evitar que as sequelas se estendam pelo tempo. Por exemplo, o aumento dos gastos em saúde, diante da queda nas receitas e, consequentemente, a ampliação de déficits públicos. Esses serão financiados pela expansão da dívida pública, mas, depois, com a retomada da atividade econômica, a solução do problema dependerá da Política Tributária.

O Brasil tem a segunda maior concentração de renda do mundo, atrás do Catar. Conforme dados da FGV, a parcela de 10% dos mais ricos concentra 42% da renda no País, enquanto, 1% fica com 28% da renda. Nesse contexto, o desemprego, a desocupação e a subocupação são os maiores fatores para o aumento da desigualdade social.

Com desemprego e queda do poder de consumo, só restará como alternativa inverter a matriz tributária brasileira: tributar mais a riqueza em detrimento do consumo e da produção. Isso significa reverter a composição dessa matriz ampliando, progressivamente, a incidência de impostos sobre Lucros, Ganhos de Capital, Renda, Intermediação Financeira, Herança e Propriedade que, atualmente, representa 54% da carga tributária. Por sua vez, reduzir a incidência da carga de impostos sobre Bens e Serviços como alimentos, remédios, transportes e educação, cuja incidência no Brasil é de 46%.

Considerando que os Estados Unidos são referência para o Brasil, por que não "imitar" aquela nação quanto a sua carga tributária? A mesma tem como base 85% de sua arrecadação incidindo sobre a Renda, Lucro, Ganho de Capital, Herança e Propriedade. Esses itens caracterizam as classes privilegiadas da nação americana, onde apenas 16% incidem sobre Bens e Serviços (alimentos, remédios, transportes e educação), perfazendo uma Carga Tributária total de apenas 27% do PIB, menor que a brasileira que é de 34% com viés de alta.

Uma tributação mais justa e adequada trará como primeiro impacto o aumento da produtividade da economia. Essa é a oportunidade que a crise econômica, decorrente do surto pandêmico da Covid, oferece aos Governos para atenuar e reverter os efeitos negativos, evitar o "fura teto" das despesas, bem como corrigir um dos maiores e perversos problemas: a injustiça tributária e social.

Artigo de autoria do economista Paulo de Tarso Pinheiro Machado, publicado no Jornal do Comércio, edição do dia 8 de setembro de 2020.

Quando setembro chega, otimismo aumenta


Quando setembro chega, o otimismo aumenta com esperanças renovadas para dias melhores. Depois do isolamento social, muitas pessoas querem retomar suas viagens. As buscas dos destinos turísticos de curtas distâncias, tem sido as preferências reveladas dos visitantes. Os grupos familiares podem predominar. A segurança em primeiro lugar para proteção total: protocolos ainda mais rígidos de higienização e evitar aglomerações. De uma maneira geral, os visitantes querem relaxar, com experiências de contemplações dos aspectos urbanos e/ou rurais. Nas cidades, os passeios à pé e nas regiões turísticas, caminhadas por trilhas seguras e com serviços. É o Turismo voltando às suas origens. Enquanto o fenômeno turístico está revendo uma série de protocolos nos transportes, principalmente aéreo e marítimo, o visitante está buscando o consumo do tempo livre, no entretenimento, lazer e viagens curtas. Os principais destinos turísticos mundiais estão buscando alternativas para reduzir incertezas visando recuperar demandas de fluxos de visitantes.

Convém salientar, que o turismo continua sendo um dos maiores sonhos dos consumidores da Economia de Mercado. Viajar está incorporado ao orçamento familiar. A popularização do Turismo foi impactada pela Pandemia. O Turismo massivo foi reduzido porque a demanda diminuiu. Os cancelamentos dos voos e cruzeiros marítimos, assim como as reservas nos meios de hospedagem, demonstram os estragos econômicos e sociais causados pela Pandemia. Desemprego em massa nos setores vinculados ao Turismo.

No Pós Pandemia, é óbvio que a Oferta turística deve ser adaptada à um novo tipo de Demanda Turística. Teremos bens e/ou serviços mais diversos para públicos distintos, de acordo com preferências e disponibilidades econômicas e financeiras dos visitantes. Mas, sejamos otimistas. Sempre. Um novo Turismo está surgindo. Novos segmentos estão atendendo nichos de mercados. A retomada está iniciando. Sempre existirão alguns aspectos geográficos, históricos, culturais, equipamentos e serviços capazes de atraírem visitantes por motivações diversas. Os verbos do Turismo devem ser lembrados: transportar, visitar, comer, aprender, entreter, comprar e dormir fora da residência. Viajar é preciso. O Turismo não acabou. O fenômeno turístico está presente em todo Planeta, e no sonho de viajar de cada habitante. Para os gestores, é indispensável adaptação à uma nova realidade exigindo mais profissionalismo, com visão estratégica, novas táticas, novas operações. O Glocal com Pensar Global e Ação Local é o grande desafio. Será? São reflexões. Podem ser úteis. Pensem nisso.

 

Artigo de autoria do economista e mestre em Comunicação, Abdon Barretto Filho, publicado na página 2 do Correio do Povo, do dia 26 de agosto de 2020.

 

Como é paga a dívida federal

A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG), que inclui toda a dívida do Tesouro Nacional, as operações compromissadas do Banco Central (Bacen), mais a dos estados e municípios, alcançou em 2019 R$ 5,5 trilhões, ou 75,8% do PIB. De 2013 a 2015, a DBGG aumentou 14 pontos percentuais do Produto Interno Bruto (PIB), passando de 51,5% em 2013 para 65,5%, em 2015. Continuou a crescer daí em diante, em decorrência dos altos déficits primários, devendo se aproximar dos 100% do PIB neste ano. Mais grave que a dimensão da dívida é o seu pagamento ser feito basicamente por novas operações de crédito (rolagens). Nos últimos cinco anos, de 2015 a 2019, a despesa anual com a dívida foi, em média, R$ 1,1 trilhão, entre amortização e encargos. Desse total, apenas R$ 93,6 bilhões, ou 8,5%, foram pagos com recursos próprios. Mas, esses recursos não foram oriundos de superávits primários, porque houve déficits.

Tiveram origem, basicamente, no recebimento de prestações de empréstimos concedidos pelo governo federal, principalmente os decorrentes do refinanciamento das dívidas dos estados e municípios; dos lucros do Bacen e do rendimento das disponibilidades do Tesouro Nacional (TN). Os lucros do Bacen têm sido altos nos últimos anos, devido às desvalorizações do real, que aumentaram o valor das reservas cambiais em moeda nacional. A Lei n° 11.803/2008 determina que os lucros derivados dessas desvalorizações sejam repassados ao Tesouro, mesmo quando não há realização em dinheiro. Isso é um financiamento implícito do TN pelo Bacen, o que é proibido pela Constituição.

Em 2019 foi editada a Lei nº 13.820, que alterou essa sistemática, destinando os lucros assim gerados à formação de reservas e só repassando ao TN os que não tivessem origem nas desvalorizações cambiais, já que os primeiros só podem ser repassados em situações especiais estabelecidas na lei. Foi uma medida fiscalmente responsável. No entanto, esse repasse a menor terá impacto também nas disponibilidades do TN. Além disso, o pagamento das dívidas pelos demais entes federados foi suspenso até o final de 2021. E, daí em diante, eles terão grandes dificuldades para honrar esses compromissos, devido à crise fiscal que atravessam.
Se a Covid-19 se prolongar por muito tempo, destruindo a atividade econômica e gerando altos déficits fiscais, a já expressiva dívida pública se tornará insustentável.

 

Artigo de autoria do economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, ex-vice-presidente do Corecon-RS, publicado na edição do dia 27 de julho de 2020, no Jornal do Comércio.

O artigo tabém está disponível no Blog DarcyFrancisco.com

 

 

 

27/0720

Por que o crédito parou na ponta?

À medida que avançamos na sombria era do coronavírus, avançam igualmente as notícias de encerramento de pequenos e médios negócios. Com a demanda menor, em função do distanciamento social, e consequente queda nas receitas, além de problemas no fluxo de caixa, o fim das atividades é o único caminho para muitos. É fato que o governo federal gerou diversos programas de crédito para amenizar os danos da crise e tentar salvar empresas de todos os portes. Contudo, a impressão é que o dinheiro não está sendo liberado pelos bancos na quantidade desejada. Por quê?

No processo concessão de crédito, os bancos se defrontam com um problema que nós economistas chamamos de informação oculta. É uma “falha de mercado” na qual uma das partes envolvidas na negociação está mais bem informada a respeito das condições do cumprimento do contrato do que a outra. Em uma relação entre credor e devedor, o último tem uma melhor informação sobre as reais condições de pagamento da dívida adquirida. O resultado deste problema informacional é que o preço do empréstimo é formado, além de outras coisas, por uma expectativa média sobre a capacidade dos devedores. No limite, potenciais bons clientes se retiram do mercado em função das elevadas taxas de juros para o seu perfil de risco. Apenas clientes com maiores probabilidades de inadimplemento ficam.

Na prática, felizmente, o mercado de crédito conta com diversos mecanismos privados e públicos que minoram os danos da informação oculta permitindo a identificação dos perfis de risco. No mundo desenvolvido, o uso de garantias reais, como imóveis, fomenta a liberação de um volume expressivo de recursos. No Brasil, nem tanto.

Precisamos de leis que otimizem o uso das garantias reais - mais de um financiamento contra a mesma garantia. A redução dos custos burocráticos, cartoriais, com o uso de garantias reais é também imperativa. Por fim, e não menos importante, soma-se a necessidade do fortalecimento do Rule of Law. O Brasil tem uma das piores taxas de recuperação judicial de crédito do mundo. Os contratos devem ser respeitados: whatever the cost may be.

 

Artigo, de autoria do economista Felipe Garcia Ribeiro, ex-Secretário-Adjunto do Ministério da Economia, professor da UFPel e conselheiro do Corecon-RS, publicado na Zero Hora, de 25/07/2020.

Ausência de uma visão holística


Toda a sociedade brasileira está passando por essa tragédia sanitária provocada pela Covid-19, com um saldo de mais de 1.600 mil ocorrências e 65 mil mortes (em 5/7/2020). Por isso, a saúde deve ser a nossa primeira preocupação, mas não podemos esquecer da economia, cuja queda significa menos produção, menos emprego e renda e menor arrecadação de tributos. No final, teremos menos recursos para a saúde também. De 2011 a 2019 o PIB nacional cresceu apenas 6,5%. Como para 2020 está prevista uma queda igualmente de 6,5%, isso significa que neste ano estaremos com o mesmo PIB de 2010 e a população 8,5% maior. Portanto, estaremos 8,5% mais pobres, ou 9,1% segundo a previsão do FMI.

O governo federal, a exemplo de outros países, fez a sua parte, no tocante à distribuição de recursos, para empresas, pessoas necessitadas e para os demais entes federados. E é bom que se diga que, talvez, nenhum país esteja recém saindo (se é que se pode dizer assim) de uma das maiores recessões de sua história. A ajuda financeira a estados e municípios, considerando a suspensão do pagamento das dívidas, alcançou R$ 120 bilhões. A metade desse valor está sendo repassada em dinheiro, sendo R$ 37 bilhões aos estados e R$ 23 bilhões aos municípios. Os estados receberão os valores líquidos. Por isso, não haverá distribuição aos municípios.
Mas, agora há um projeto na Câmara Federal, de n° 3165/2000, para repassar ao Fundo Nacional de Educação (FNDE), a importância de R$ 31 bilhões, destinada a estados e municípios para aplicar na educação básica. Certamente pelo apelo popular da medida, será aprovada por ampla maioria. Nada contra a medida em si, pelo seu alto alcance social.

No entanto, é bom que se mostre a real situação das contas públicas, exposta pelo secretário Mansueto de Almeida, em entrevista recente. O País, que vinha reduzindo seu déficit fiscal, deverá passar de um déficit primário de R$ 61 bilhões em 2019 para R$ 828,6 bilhões, indo de 0,9% para 12% do PIB. O déficit nominal, se mantidos os juros de 2019, irá para 17% do PIB. A dívida pública bruta deverá alcançar 100% do PIB. Em valor, o citado déficit nominal deverá alcançar R$ 1,2 trilhão. Colocando todos os algarismos é assustador: R$ 1.200.000.000.000,00, só num ano.

Por tudo isso, está faltando aos senhores deputados uma visão holística da realidade do País.

Artigo de autoria do economista Darcy Francisco Carvalho dos Santos, ex-vice-presidente do Corecon-RS, publicado no Jornal do Comércio, do dia 9 de julho de 2020.

Um ponto de mutação?


No começo da década de oitenta, há 40 anos atrás, havia uma sensação de insegurança no mundo, com a possibilidade de uma guerra em larga escala e sucessivas crises de oferta ocasionadas pelo preço do petróleo. Essas sensações contaminaram a produção cultural e o cotidiano de uma geração inteira. Nesse contexto reações como o fortalecimento do movimento ecologista e um processo de abertura política nos países comunistas culminando no fim da guerra fria, inverteram as perspectivas no final da década.

É do começo dos anos 80 também o livro “O ponto de mutação”, de Fritjof Capra, onde o autor, um físico austríaco, constata que em diversas áreas o final do século XX demarcaria uma transição em várias áreas do conhecimento e em processos sociais relevantes.
A crise deflagrada pela pandemia do covid-19 empobrece o mundo momentaneamente, com empresas, rendas e empregos perdidos. Ademais, cria incertezas sobre as condições sanitárias que demorarão tempos para serem dissipadas. Logo, como firma Capra em seu livro: “Na medida em que o meio ambiente muda, o cérebro amolda-se em resposta a essas mudanças”.

Ao grande, ou bem posicionado, a aposta será a da concentração de mercado e de produtos mais enxutos e adaptáveis. Ao pequeno, a estratégia de guerrilha será a ordem do dia: movimentações rápidas, adaptabilidade e o aproveitamento de oportunidades sabidamente passageiras, com produtos desenhados para a particularidade de cada um dos clientes. Ademais, novos setores se abrem na esteira da queda de outros setores, exigindo a repaginação das marcas e do posicionamento dos empreendedores. O grande será pequeno e o pequeno se tornará grande.

Aqueles que entendem que soluções do século XX serão respostas adequadas para a crise da pandemia, em todas as atividades, no máximo poderão obter respostas de curto prazo e, muito provavelmente, apenas tornem mais complicados o médio e longo prazo. Certamente, o ponto de mutação apresenta-se e todos os movimentos que eram processuais tornaram-se abruptos.


Artigo de autoria do economista e professor da PUCRS Gustavo Inácio de Moraes, publicado na edição do dia 09 de junho de 2020, do Jornal do Comércio.

 

Empresas e Planejamento para o Pós Pandemia


Planejar cenários é desafiador. A crise que ora vivemos não tem causa econômica. É uma pandemia que está gerando sérios problemas financeiros e econômicos em escala mundial. Há severas restrições ao funcionamento das empresas em geral, bem como à circulação de pessoas. Funcionários estão em férias, com atividades paralisadas ou foram demitidos. Não sabemos ao certo o tempo que vai levar e menos ainda como será o processo de retomada. Mas não podemos nos iludir com uma retomada rápida. Logo, fica muito difícil planejar, ao mesmo tempo em que é fundamental traçar cenários e adaptar o negócio à essa nova realidade.

A retomada não deverá ocorrer de modo igualitário entre países e suas mais variadas regiões, visto que a pandemia se apresentou de modo mais contundente em certos locais, ao menos até o momento. No Rio Grande do Sul, numa ação regionalizada proposta pelo Governo Estadual, muitos municípios já estão com atividades comerciais e industriais funcionando com certas restrições e obrigatoriedade de seguir protocolos pré-estabelecidos, o que gera diferenciada abertura econômica e social.

Nesse cenário, qualquer reversão na expectativa, que demonstre maior avanço do vírus na sociedade, vai levar o Governo a rever suas medidas. Por isso é recomendável as empresas atenção ao analisar o mercado, planejar suas ações e evitar o aumento de gastos ou mesmo dispêndios elevados de capital de giro em estoques, enquanto a vida e o curso da economia não permitir que se vislumbre o futuro com certa nitidez, ao menos de curto prazo. Alternativas como fusões, aporte de capital de terceiros e capital de giro do BNDES, podem, se planejadas, ser ótimas soluções.

Por isso, é importante que o planejamento e as ações das empresas, independentemente de seu porte, sejam estruturadas num consistente plano de negócios, foco no objetivo almejado, quer seja para atuar com maior segurança na sua área de atuação usando recursos próprios, captando recursos de capital de giro em agentes financeiros, buscando aporte de capital ou mesmo se fundindo a outra empresa. O Plano de negócios nada mais é do que a tradução em números das medidas que serão adotadas. Planejar sempre foi importante e na situação atual pode se tornar fator de sobrevivência das empresas.

Artigo de autoria do economista, consultor de empresas e ex-presidente do Corecon-RS, Rogério  Vianna Tolfo, publicado na edição on line do Jornal do Comércio, do dia 12 de junho de 2020.

Diversificação 2.0

A crise atual, trazida pelo covid-19, desafia até mesmo as mais sofisticadas empresas em relação a planos de contingências, otimização de rendimentos e a minimização de riscos. Já é do conhecimento do mercado e dos investidores a importância da diversificação de investimentos em diferentes empresas e setores.

Mas proponho uma breve reflexão, um pouco mais profunda, abrangendo também as economias globais. Para isso, trago dois exemplos: O primeiro é o Índice Bovespa, principal índice de ações do Brasil, composto por uma carteira teórica de 75 empresas dos mais diversos setores. A análise dos dados a seguir, é feita de 30 de dezembro de 2019 até 29 de maio de 2020.

 

Neste período, é possível observar uma queda do valor do Índice Bovespa, superior a 24%. Já, em março, foi registrada a mínima, que alcançou uma queda superior a 45%. Com base nisso, vamos comparar ao desempenho do MSCI World Index, um Índice global com carteira teórica de ativos diversificada em mais de 10 países desenvolvidos.

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Este índice, por sua vez, de 31 de dezembro de 2019 até 29 de maio de 2020, apresentou uma queda superior a 8,9%, chegando em março a uma depreciação superior a 32%. Veja na ilustração a seguir, a variação em %:

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É possível observar que ambas as carteiras registraram quedas significativas. Porém, a carteira diversificada no mercado global apresentou uma queda de 13% a menos, comparada à carteira teórica brasileira. A recuperação do MSCI World Index, no período de março a maio, foi superior a 72% do valor depreciado, comparada ao Índice Bovespa, que recuperou um pouco mais de 46% no mesmo período.

Apesar de ambas as carteiras ainda estarem operando no campo negativo, a carteira diversificada no mercado internacional apresentou melhor desempenho, tanto na retomada do valor depreciado, quanto a menor perda de valor acumulada no período.
Isso nos mostra a importância da diversificação de investimentos, não só no mercado doméstico, mas, também, no mercado internacional. Quando uma carteira está diversificada em vários países, ela está mais protegida em relação a carteiras compostas por ativos de um único país.

A nova geração de carteiras, que adicionam ativos do mercado global, pode ser considerada a nova arma para minimizar riscos e potencializar as oportunidades de investimentos.

Artigo de autoria do economista Daniel Kussler, da ALTA Capital Administração de Fundos e Investimento Estratégicos EIRELI.

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